quarta-feira, 22 de agosto de 2018

REBELDIA Lindberg Farias


Divulgando...
Boa tarde povo!
Dia de Pensamento Inquieto! Continuamos com os textos anunciados na primeira postagem. Os mesmos serão divididos em várias postagens pra facilitar a leitura.
Obs.: Lembrando que temos uma novidade! Se você estiver sem tempo para ler o texto, a partir de agora disponibilizaremos um link para que você possa ouvir o texto sintetizado em MP3 (Haverá alguns sotaques visto que são sintetizadores estrangeiros)! O(s) Link(s) estará(ão) sempre entre o primeiro e o segundo parágrafo do texto postado.
Degustem!




GUETO DO PENSAMENTO INQUIETO
REBELDIA
Lindberg Farias – Presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE)
O Pensamento Inquieto (Curso de Extensão Universitária a Distância). Organização de Clodomir de Souza Ferreira, João Antonio de Lima Esteves e Laura Maria Coutinho – Brasília: CEAD/Editora Universidade de Brasília, 1993. (pp. 101 a 108).
QUESTÕES PARA RELFEXÃO
Para que a roda da História continue a girar é necessário que a população, ou pelo menos parte dela, tenha uma atitude rebelde. Discutir rebeldia é discutir nossas perspectivas para o futuro. Lindbergh Farias, líder estudantil e presidente da União Nacional dos Estudantes, destaca a tendência natural dos jovens a reagir contra o que lhes parece errado no “status quo” das sociedade. A rebeldia é exclusivamente dos jovens? Ela se manifesta apenas em momentos de crise aguda e generalizada? Existe uma rebeldia “positiva”, resultante das preocupações com o social, e uma rebeldia “negativa”, calcada no ódio racial, no separatismo, na revolta sem causa aparente? O que distingue os “cara-pintadas” do movimento pró-impeachment dos “skinheads” neonazistas?


            A função da universidade não é só formar recursos humanos. A universidade tem uma função maior, além de produzir ciência e tecnologia, que é trazer os grandes debates da sociedade para a discussão. É da universidade que sai o conhecimento de ponta do nosso país. Não só nas áreas de ciência e tecnologia, mas também nas áreas de ciências sociais e de ciências humanas. Não podemos hoje nos render aos apelos tecnicistas. Muita gente quer que a universidade seja o grande centro de produção técnica, específica. Muita gente quer passar uma visão extremamente tecnicista da universidade, como se fosse só sua função desenvolver as últimas inovações em termos de micro ships, na área da engenharia, da medicina. Tentam, de todas as formas, quebrar esse pensamento crítico, de questionamento, que existe entre os estudantes, entre a intelectualidade desse nosso país. Vocês veem concretamente que saiu das universidades, dos professores, da SBPC, dos estudantes, grande parte do questionamento à ditadura militar. Saiu dos estudantes aquele anseio concreto que existia de luta pela liberdade e luta por justiça social, e nós temos um exemplo na UnB, o Honestino Guimarães, ex-presidente da UNE. Então querem podar essa criatividade, essas inovações que podem surgir na universidade. Então é nesse sentido que eu elogio a realização desse Fórum do pensamento inquieto. Acho que já é uma atitude rebelde nossa, parar hoje para discutir Deus, Marx, o papel do Estado, Rebeldia, Ética, Democracia. Já é um início para tentarmos resgatar a verdadeira função da universidade, que não é só a universidade que formaria os maiores cirurgiões plástico do mundo, mas é o Brasil que não forma nas universidades o médico que discute a prevenção de doenças que atinge o grosso da população brasileira. É o Brasil dos arquitetos especializados em construção de mansões luxuosas, e não o Brasil que forma arquitetos que elaborem projetos alternativos de construção de moradia popular. É o Brasil dos profissionais que saem, porque essa é a visão que querem passar, saem da universidade comprometidos apenas com os interesses das elites. Acho que o nosso ato de rebeldia é questionar nossos currículos, tentar romper essa cerca da universidade e criar, de fato, laços da universidade, laços do ensino, da pesquisa, da extensão, com a comunidade carente, com essa população brasileira, miserável. É preciso, sim, sair do gueto. Nós queremos que essa tal de universidade pública e gratuita, que falam que existe, não seja só o fato de a gente não pagar a mensalidade. Mas esse ‘público’ significa que a universidade tem de ter ligação com os interesses da maioria da população. A universidade não pode estar distante, por exemplo, dos arrastões do Rio de Janeiro, do pessoal da saúde, dessa epidemia do cólera. A universidade tem de estar perto, vinculada aos interesses imediatos da população brasileira. Esse é o grande debate que existe hoje na universidade. A luta pela ‘publicização’. Faço esse apelo para que cada um, no cotidiano, no dia-a-dia, na sua forma de agir na sala de aula, nas discussões sobre os currículos, e também a instituição, como um todo, se rebelem nesse momento. Nós temos de construir agora uma universidade vinculada aos interesses mais populares, e não transformar a universidade em shopping Center do conhecimento para os grandes grupos econômicos. Não podemos transformar as universidades apenas em produtoras de ciência e tecnologia para as grandes empresas. A universidade tem de se ligar aos interesses da maioria da população.
            Comecei com esse tema Rebeldia, tocando em coisas do nosso dia-a-dia concreto, na universidade. Acho que a discussão da rebeldia está extremamente ligada também com a discussão do futuro. Rebeldia está extremamente ligada ao futuro. O que é que leva o motor da história a andar? O que leva às mudanças na sociedade? É a indignação, a inquietude, que faz as pessoas se rebelarem contra esse determinado estado de coisas. Pode-se dar vários exemplos disso. A Revolução Francesa, a Revolução Russa, os cubanos, quando fizeram sua revolução, eram chamados de Rebeldes. Isso em todos os momentos da história. Para a roda da história andar é preciso que a população, ou pelo menos um setor dela, se rebele. Então, discutir rebeldia é discutir as nossas perspectiva para o futuro. E aí a discussão da rebeldia se liga à questão da juventude. Há quatro meses todos diziam que o movimento estudantil tinha acabado, a UNE tinha morrido, os estudantes não tinham nenhum papel a jogar no processo político do país. Era a juventude da geração coca-cola e que não tinha mais jeito. Era coisa da década de 1960. Isso circulava não só no meio dos estudantes, mas no meio de intelectualidade, em toda a sociedade existia essa discussão. Quem se apressou em rezar a missa de sétimo dia da participação política dos estudantes deve ter ficado impressionado com a vitalidade do defunto, depois de todas essas mobilizações pelo impeachment. Sempre foi uma marca da juventude do nosso país a participação política em momentos cruciais.
            A UNE foi criada em 1937, já se organizando contra a ditadura do Estado Novo. Vários líderes estudantis jogaram um grande papel em toda essa mobilização. Depois os estudantes pressionaram o governo de Getúlio para entrar na guerra contra o nazi-fascismo, no momento em que o governo balançava por suas ligações com a Alemanha de Hitler. Os estudantes também jogaram um importante papel na luta “O petróleo é nosso”, e também no governo João Goulart, pelas reformas de base: educação, agrária, etc. E o período todo especial da ditadura militar de 1964. Os estudantes tiveram um papel em todo aquele processo. A primeira atitude dos generais foi destruir o histórico prédio da UNE, localizado na Praia do Flamengo, nº 132, na madrugada do dia 31 de março para 1º de abril. Mesmo com o cerco militar, a turma continuava nas ruas. Houve a passeata dos cem mil em 1968, liderada no Rio por Wladimir Palmeira. Logo depois do AI-5 teve o Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de São Paulo, que reuniu estudantes do Acre ao Rio Grande do Sul, provocando um grande cerco do Exército e a prisão dos líderes estudantis nacionais. Foi nesse momento que ganhou força a palavra de ordem: “A UNE somos nós, nossa força, nossa voz.” Porque no outro dia nos jornais da repressão, da ditadura militar, colocaram na capa que depois do Congresso de Ibiúna tinham prendido todos os líderes, e o movimento estudantil tinha morrido. Respondendo à imprensa, aconteceram mobilizações espontâneas dos estudantes em todo o país, que levantavam aquela bandeira da “UNE somos nós, nossa força, nossa voz”. Ou seja, mesmo sem as lideranças, mesmo sem os dirigentes da UNE aqui estão os estudantes novamente lutando pela liberdade, Não foi só isso. Tentam apagar da história, por exemplo, as mobilizações de 1977 dos estudantes em São Paulo e no Rio de Janeiro pela anistia ampla, geral e irrestrita, em nosso país. Então, é um pouco precipitado se afirmar que o movimento estudantil e a juventude não jogavam mais nenhum papel no processo político nacional.
            Se avaliarmos, não é só a questão do Brasil. Toda vez que a crise na sociedade é geral, que faltam perspectivas para o futuro, a juventude sai com vigor às ruas. O que foi o processo do leste europeu? Quem estava na frente daquelas mobilizações lá? A juventude daqueles países. Na queda do muro de Berlim, a participação da juventude também foi importantíssima. Na Coréia do Norte, vemos o sonho da juventude coreana da unificação das duas Coréias. Mesmo em Los Angeles, aquela revolta dos negros, de uma imensa maioria de jovens negros. E aqui no Brasil, em todo esse processo do impeachment. Analisando bem, essa sempre é uma característica da juventude. Não só agora, para o futuro também, quando não existirem perspectivas. Essa juventude funcionou um pouco como termômetro. Ela se rebela com mais facilidade e ocupa as ruas em grandes manifestações. É errado dizermos e associarmos essa rebeldia da juventude e a rebeldia do nosso povo apenas às grandes lutas políticas. A rebeldia é algo inerente ao próprio ser jovem, por vários motivos. Primeiro, por não estar participando ainda de maneira efetiva do setor produtivo. A rebeldia tem muita liberdade. Ela, às vezes, é canalizada num grande processo de participação política, outras vezes, não. Por exemplo: em determinados momentos da história, quando as perspectivas não são claras, podemos dizer que não é uma forma rebelde de comportamento a proliferação na Europa, em determinado momento da história, de grupos darks e grupos punks. Sim, é uma forma de contestação, é uma forma de rebeldia contra uma situação, mas sem saber qual a saída. Rebeldia contra um determinado sistema social, mas sem saber quais seriam os rumos de modificação de tudo isso. Outro exemplo é o caso de Los Angeles. Aquela juventude negra foi às ruas contra as discriminações racial e social, mas não sabia quais as formas e os caminhos da luta. Tem até uma música de Cazuza que fala: “Ideologia, eu quero uma pra viver. Meus heróis morreram de overdose, etc.”, que reflete o pensamento da juventude naquele momento. Ele demonstra, naquela música, a revolta contra a situação que existia no Brasil, mas não existiam perspectivas de transformação. Não existiam de forma clara para essa juventude as formas de mudança. A rebeldia esta presente. O mundo de hoje se utiliza muito do fracasso da experiência do socialismo no leste europeu; da queda do muro de Berlim, pra tentar passar para o jovem, especialmente o do Terceiro Mundo, que o sonho do socialismo morreu. Mas não só isso, tentam passar além disso que o sonho de construção de um mundo coletivo morreu, que o Brasil coletivo não existe mais, tentam passar que qualquer coisa coletiva é démodé, que cada um deve discutir a construir sua vida própria. O jovem deve entrar para a universidade, anotar o que o professor fala, não participar do centro acadêmico, ir para casa, não participar de um fórum como este, não participar de nada disso. Essa é a mensagem que tentam passar para nossa juventude, através da grande mídia.
CONTINUA NA PRÓXIMA QUARTA...
Obs.: Os negritos itálicos são os destaques do texto original; os [  ], os negritos e os negritos vermelhos são destaques nossos.



terça-feira, 21 de agosto de 2018

Material Didático digital

Divulgando de ClipEscola...


5 sites com material didático digital para tornar as suas aulas uma experiência extraordinária
14 de maio de 2018 | sem comentário | Categoria(s): Tecnologia no Ensino
Há quanto tempo você não vê o brilho nos olhos dos seus alunos? As suas aulas ainda despertam entusiasmo? Se você sente que “algo está faltando”, talvez esteja na hora de procurar por reforços. Além do material didático tradicional que você utiliza, que tal experimentar introduzir alguns conteúdos digitais e proporcionar aos alunos um aprendizado multimídia?
Para se comunicar com pessoas que já nasceram em um mundo em plena efervescência tecnológica, nada mais efetivo do que falar a mesma língua que elas, não acha?
E se você já se deu conta disso, mas não sabe aonde encontrar um material didático em formato digital que supra suas necessidades, nós vamos te dar o caminho das pedras! Confira a nossa lista de sites com materiais nesse formato:
Sumário
1 M³ Matemática Multimídia
A matemática é uma matéria que muitos alunos torcem o nariz. É preciso muita criatividade para instigar neles o gosto pelos números. O uso de um material didático tradicional é um meio mais difícil para atingir a esse fim. Mas existem outros bem mais promissores.
O M³ Matemática Multimídia é um deles. O portal disponibiliza diversos recursos educacionais de ensino médio em formato multimídia, desenvolvidos pela Unicamp. Os experimentos, vídeos, softwares e áudios podem ser copiados e distribuídos para os alunos, só não podem ser comercializados.
Os temas principais dos recursos são análise de dados e probabilidade, geometria e medidas, e números e funções. Cada um desses temas é dividido em diversos subtemas, como probabilidade, estatística, trigonometria, geometria plana, matemática financeira, sistemas lineares, matrizes, entre outros. Vale a pena conferir!
2 Escola Digital
Que tal ensinar física térmica e hidrostática mostrando simulações de emissão de gás carbônico pelo escape de carros? Ou então, explicar química das coisas exibindo um vídeo com demonstrações práticas? Ou ainda, dar uma aula sobre a Revolução Russa usando animações?
Isso está ao seu alcance, e sem nenhum custo envolvido! O site Escola Digital oferece material didático em forma de animações, infografias, apresentações multimídia, livros digitais, jogos, simuladores, quiz, áudios, entre outros.
Em meio a tantas opções, você pode estar pensando que é difícil encontrar algo mais específico sobre um assunto. Para a sua sorte, é muito fácil. Além de o site disponibilizar um campo de buscas, ele também permite o uso de diversos filtros. É possível filtrar a pesquisa por tipo de mídia, disciplina e até por acessibilidade.
3 Portal do Professor
A terceira opção da nossa lista é um site que cobre um grande leque de temas e níveis de ensino: o Portal do Professor. Lá é possível encontrar um rico acervo de recursos para o ensino. Com tantas opções, o difícil é achar um motivo para não incluir material didático digital em sala de aula.
Os temas são trabalhados em formato de vídeo, áudio, foto, pdf, entre outros. Além disso, o professor também tem à disposição recursos como caderno digital, sugestões de aula, cursos, ambiente colaborativo de aprendizagem, obras de domínio público, materiais de estudo para o docente, etc.
O caminho dá ao professor não apenas os meios para trabalhar com conteúdo multimídia em classe, como também as condições para que ele possa aprimorar-se. Com esse conjunto de peso, certamente o aprendizado ganhará em qualidade. Então fica a dica!
4 Recursos Educacionais Abertos
Também contribuindo para a socialização do conhecimento, o site Recursos Educacionais Abertos (REA) é responsável pela reunião de conteúdos colaborativos de ensino em diversos formatos.
O professor consegue encontrar por lá uma vasta quantidade de material didático que está disponibilizada no menu Mão na massa>Compartilhar. Clicando nos links, é possível deparar-se com preciosidades como: uma entrevista em vídeo com Clarice Lispector, acervos de jornais impressos digitalizados, áudios sobre matemática financeira, entre outros.
Para o educador realmente comprometido com o aprendizado dos alunos, este site é um achado. A qualidade, quantidade e variedade dos recursos disponibilizados dá a ele a base de que necessita para aulas interessantes e motivadoras.
5 Projeto SEEDUC
O Ensino de Jovens e Adultos (EJA) é o foco principal desta página do projeto SEEDUC. Ela disponibiliza um material didático multimídia bem completo de 13 disciplinas. E embora seja voltada para EJA, nada impede que alguns dos recursos sejam utilizados em outros modelos de ensino.
Professores de escolas de idiomas, por exemplo, podem encontrar nela conteúdo para incrementar as aulas, pois entre os materiais disponibilizados estão os das matérias de inglês e espanhol.
E diferentemente dos outros sites desta lista, a página do Projeto SEEDUC não permite a visualização do material de forma online. Ao clicar sobre o nome das disciplinas, o download do conteúdo se inicia de maneira automática. Isso pode demorar até algumas horas, mas para dar aos seus alunos essa experiência com material didático digital, vale a pena a espera!
Leia mais
Com a nossa lista, agora você já tem material didático o suficiente para tornar as suas aulas muito mais instigantes. Qual das opções você mais gostou? Comente aqui!
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A autora é Jornalista, pós-graduada em Produção Multimídia e atua na ClipEscola como Conteudista de Marketing Digital.


 

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

ÉTICA 2 LULA


Divulgando...
Bom dia povo!
Dia de Pensamento Inquieto! Continuamos com os textos anunciados na primeira postagem. Os mesmos serão divididos em várias postagens pra facilitar a leitura.
Obs.: Lembrando que temos uma novidade! Se você estiver sem tempo para ler o texto, a partir de agora disponibilizaremos um link para que você possa ouvir o texto sintetizado em MP3 (Haverá alguns sotaques visto que são sintetizadores estrangeiros)! O(s) Link(s) estará(ão) sempre entre o primeiro e o segundo parágrafo do texto postado.
Degustem!



CONTINUANDO...

            Eu quero dizer que a questão da ética vai exigir de nós uma dinâmica um pouco maior. Se pararmos no impeachment do Collor, não estaremos contribuindo com o tipo de sonho que despertou, que levou milhões de pessoas às ruas, e que motivou toda essa briga para afastar o presidente. É preciso que nós, de uma vez por todas, exijamos a moralidade na administração pública. Ninguém pode ser eleito nesse país e governar, ou legislar em causa própria. Ninguém pode determinar, sem consultar organismos democráticos da sociedade civil, sobre coisas que mexem diretamente com o dinheiro público. Nós vimos agora que a Caixa Econômica Federal deu um desfalque de quase 11 trilhões de cruzeiros no FGTS. Com que direito um cidadão pode mexer em 11 trilhões de cruzeiros que não são dele, que são de toda a sociedade, sem que esta sociedade tenha o direito de saber se ele mexeu ou não no dinheiro?

            Nós precisamos começar a perceber que não é ético, por exemplo, os deputados legislarem sobre seu próprio salário. É preciso que haja mecanismos para que as coisas sejam feitas mais às claras. Eu não estou aqui fazendo juízo de valor sobre salário de deputado. Mas acho que devemos ter outro comportamento para servir como exemplo, da mesma forma que nós não podemos permitir que um presidente de uma empresa estatal trate a coisa pública como se fosse particular, e a partir dali ele empregue o carreirismo, sem levar em consideração nenhum critério de produtividade, de rentabilidade de uma empresa. Não é que as empresas estatais não funcionem. Nós estamos quebrando, não porque elas não prestem, nós estamos quebrando porque elas são mal administradas, porque elas não são administradas como coisa pública, mas como coisa privada. É a coisa pública a serviço de determinados grupos, quando deveria estar a serviço de todos. Se nós não fizermos isso, não estaremos estabelecendo a ética neste país. Como acho que a falta de ética é uma coisa quase milenar, só não é milenar porque o Brasil não tem mil anos, nós precisamos de muita luta para começar a mudar a situação desse país.
            Vocês imaginem, por exemplo, o que é falta de ética com a nossa juventude. Acabou de ser aprovado a Estatuto da Criança. As pessoas fazem discurso chorando na Câmara dos Deputados. Várias comissões dos direitos humanos saem pelo mundo a fora divulgando o Estatuto da Criança que foi aprovado. As crianças têm direito a tudo: a uma família, a uma casa, à educação. É fantástico do ponto de vista de do princípio geral que está contido na lei. Mas quando olhamos este mesmo Estatuto da Criança que determina tudo que elas têm direito, e percebemos que neste país o salário mínimo é de apenas 50 dólares, nós imaginamos: “Não pode ser verdade”, e não pode combinar o Estatuto da Criança com a distribuição de renda no país. Por isso é que no Brasil se adota um discurso de que a lei “pega, ou não pega”. Porque, se as pessoas fazem o Estatuto da Criança com boa vontade, tentando responder àquilo que é fundamental, é preciso que, do ponto de vista econômico, o governo leve em consideração uma boa distribuição de renda, para que possam se cumpridas as exigências que estão na Constituição, no Estatuto da Criança, no Estatuto da ONU dos Direitos Humanos, de garantir às pessoas o direito à cidadania.
            Como se pode falar em ética num país em que apenas 1% da juventude está na universidade. E a juventude que está na universidade é privilegiada, porque, além de poder estar na universidade, é a que pode estar organizada. Quando poderemos organizar esses milhões de jovens que não entram no mercado de trabalho, que não entram nas escolas e que, portanto, estão predestinados a serem vítimas da violência da polícia nas ruas das grandes cidades? Isso é falta de ética. É dever do Estado, agindo eticamente, garantir para todas as pessoas esse direito à universidade. Quanto aos meios de comunicação, a questão da ética deve ser considerada. Qual o acesso que se tem hoje na determinação da programação da televisão? Outro dia o Chico Anísio falou mal de mim no ‘Fantástico’. Eu entrei com direito de resposta na Justiça e em contato com o chefe de programação da Globo. Eles me deram o direito de resposta durante um minuto e trinta segundos. No outro domingo Chico Anísio falou outra vez. Eu teria que entrar na Justiça e demora mais quatro meses. Que ética é essa? Quando alguém pode falar mal de você e você não tem o direito de responder imediatamente? Às vezes você é obrigado a esperar seis meses, e quando chega o direito de resposta, acabou o momento político apropriado. Que ética é essa nos meios de comunicação quando qualquer pessoa, que votou cinco anos para Sarney, conseguiu rádio, conseguiu televisão e o sindicato de São Bernardo, há quatro anos com um pedido de uma estação de rádio, não consegue. As universidades não têm direito a um canal de televisão, uma emissora de rádio! Então, não é possível!
            A informação tem muito a ver com a ética. A informação pode acobertar determinadas coisas e pode divulgar outras tantas. Por exemplo, no caso da NEC, e que há denúncia de envolvimento do Roberto Marinho e Antonio Carlos Magalhães. Está certo que outro que estava envolvido também, o Mário Garnero, não é nenhum santo. Mas ele estava envolvido.
            Eles fizeram um acordo em Brasília, ACM e Quércia, para não se tocar, tanto na VASP quanto na NEC. E os meios de comunicação não divulgam. Como é que podemos, efetivamente, falar que existe ética em nossos meios de comunicação? A censura ideológica é determinada pelo dono da emissora na programação jornalística e na programação normal.
            A questão da concentração de renda é outro aspecto que deve ser estudado com seriedade. Será que é ético um país que tem uma renda per capta de 4.36 dólares ter uma grande maioria vivendo com menos de cem dólares? Não é uma distribuição ética. No mínimo alguém está comendo o pãozinho que está faltando para aquele cidadão que está morando embaixo da ponte, ou para o companheiro camponês que está se afastando da sua terra natal para ser mais um indigente em uma grande metrópole brasileira. Não é ético, não é apenas no Brasil. Não é ética a relação do Primeiro Mundo com o Terceiro Mundo. Se imaginarmos que nós, do Terceiro Mundo, consumimos apenas 27% da riqueza e representamos 80% da população; se imaginarmos que 80% da população pobre comem apenas 20% da riqueza produzida; que 20%, representantes do Primeiro Mundo, consomem 80%, percebemos que há uma inversão de valores extraordinária. Tem gente comento nosso bife. Tem gente tomando nosso café.
            E o que é grave. Fui a um debate em Berlim e um físico de Munique começou a discutir uma coisa que me chamou muito a atenção. Precisamos começar, no Primeiro Mundo, a parar de discutir o que a gente vai conquistar. Nós agora precisamos começar a discutir o que vamos devolver.
            Por que ele levantou essa tese? Ele levantou essa tese porque, num estudo que apresentou na universidade, chegou à conclusão que, para garantir a todo o povo do Terceiro Mundo o mesmo padrão de vida de um europeu ou de um americano, seria necessário que o planeta Terra fosse três vezes maior do que ele é hoje. Como não dá para aumentar o planeta Terra, e nós ainda não dominamos Marte ou outros planetas para sabermos se há riqueza para explorar, é preciso começar a distribuir, de forma mais justa, o que já existe, porque senão, vai predominar na cabeça dos que já têm que nós temos que morrer sem ter. Então, começa a prevalecer a ideia que tem que haver pobre mesmo, para que possa haver rico. Imaginem se, de repente, na China, todo chinês tivesse um carro. Ou se todo chinês tivesse um aparelho de ar-condicionado. Eu cito a China, poderia ser todo o Terceiro Mundo.
            A falta de ética na distribuição da riqueza, que teoricamente deveria ser de todos, é o que gera falta de ética nos comportamentos, que vão descendo até chegar, às vezes, às nossas salas de aula, ao nosso Congresso Nacional, à nossa Câmara de Vereadores, às vezes até na nossa própria casa. É por isso que digo que a ética envolve muito mais do que a questão política, porque envolve nossa formação religiosa, envolve nossa formação ideológica, envolve o que pensamos do mundo. O mundo, que está na nossa cabeça, está muito ligado ao nosso comportamento ético. É por isso que tem um ditado que diz: “A cabeça pensa aonde os pés pisam”. Nós somos resultado do nosso meio ambiente. Se nós vivemos num meio ambiente corrupto, a tendência natural é aprendermos a viver com a corrupção sem que isso pareça um mal maior para todos nós. E nós sabemos que num país como o Brasil a roubalheira chega a tal ponto que o jornal O Globo (não é coisa do jornal da UNE, nem do PT, nem do PC do B, nem do PPS, nem do PSB) publicou uma pesquisa, no dia 27, na primeira página, em que de 4190 empresários pesquisados, 90% sonegam algum tipo de imposto.
            Há quem diga que para cada cruzeiro arrecadado há um cruzeiro sonegado. Só para entendermos os números, o Imposto Territorial Rural, em 1991, arrecadou apenas 53 milhões de dólares, o IPI de cigarro arrecadou um bilhão e meio de dólares. Isso significa que os grandes latifundiários deste país não estão pagando imposto, significa que muitos empresários estão sonegando imposto. E se eles estão sonegando imposto, estão faltando com a ética com aqueles que pagam, que são aqueles que recebem o contracheque no final do mês, porque é descontado na fonte.
            Finalmente gostaria de terminar dizendo que precisamos colocar a questão da ética na ordem do dia outra vez. É preciso que continuemos passando para a classe política, para os empresários, para os sindicalistas, para os estudantes e para a sociedade que a luta pela ética não deve acontecer somente num determinado momento histórico em que um governante está envolvido numa maior ou menor corrupção. A ética exige de nós um comportamento diário. Durante um mês, durante um ano, durante nossa vida. Nós temos que exigir que as pessoas sejam sérias. Nós temos que exigir um comportamento digno. Nós precisamos exigir que as pessoas que administram a coisa pública a administrem enquanto coisa pública, sabendo que ela é de todos e não deles. Se nós não entendermos isso como o cotidiano de nossa vida, estaremos contribuindo para que os corruptos continuem a vingar neste país. Não haverá nenhuma possibilidade, neste país, de se resolver o problema do analfabetismo, o problema de s5 milhões de deficientes físicos, de milhões de jovens que estão desempregados, sem escola para estudar, de milhões de meninas e meninos que estão se prostituindo a troco de um prato de comida. Não existirá nenhuma possibilidade de se evitar o êxodo rural. Não há possibilidade de mudar a política de distribuição de renda se não exigirmos que este país, de uma vez por todas, vire um país ético, com as pessoas se comportando decentemente. Depende somente de nós. Podemos exigir isso em nossas escolas, nossos sindicatos, em nossas casas.
            Gostaria de abordar, também, o problema dos meninos de rua. Quero dizer que não é apenas responsabilidade do Estado. Quantas pessoas poderiam se responsabilizar por uma criança de rua? Quantos de nós poderíamos adotar uma criança? Empresário, comerciante? Não seria levar para casa, mas assumir a responsabilidade do material escolar e da cesta básica de uma criança, da sua alimentação mensal. Por que ficamos apenas esperando, jogando a culpa no Estado, como se nós ganhássemos e pudéssemos resolver isso amanhã? Por que que nós não assumimos enquanto cidadãos? Por que cada grande empresário não duas, três crianças de 14 a 16 anos trabalhando um período, estudando no outro, e ganhando um salário, tendo material de escola, tendo onde dormir? Por que nós não fazemos esse gesto, que é uma coisa mais prática, uma coisa mais concreta, que uma parcela da sociedade pode fazer? Acho que os alimentos que são jogados fora neste país poderiam minorar a fome de milhões de crianças de rua que estão aí. É uma coisa que nós vamos ter que pensar, enquanto sociedade organizada. Não dá para ficar jogando a culpa em cima dos outros. Porque, aqueles mesmos que prometem que vão resolver, quando ganham as eleições são os primeiros a mandar a polícia bater, porque pobre não pode ir à praia. Afinal de contas, vai poluir aquela praia de água tão limpa. Como vamos impedir que um pobre da favela de Santa Marta desça o morro e faça uma desgraça qualquer? Aqueles moleques estão a dois mil metros de altura, vivendo no meio de fezes, de esgoto, de tudo que não presta. O ‘inseto’ menor que passa perto deles é o rato. Então eles descem o morro, chegam à avenida Atlântica, chegam a Ipanema. Aquelas crianças são induzidas pelo seu subconsciente a praticar qualquer coisa.
            Aí, sim, é que entra o Estado, com mecanismos de educação, de distribuição de renda, mas também nós podemos contribuir. Essa é uma coisa que precisamos começar a pensar, e não largar apenas nas mãos dos outros. Nós precisamos começar a assumir, porque não é pouca gente, é muita gente. E a desgraça é só tentarmos cuidar da miséria a partir da própria miséria. E vamos resolver o problema da miséria cuidando onde ela já existe. Temos que evitar que novos focos de miséria comecem a surgir neste país. Precisamos cuidas das crianças de rua de hoje, evitando que surjam novas crianças de rua, através de um programa de educação para que as pessoas saibam efetivamente controlar a natalidade, até a produção de alimentos para distribuição gratuita aos segmentos mais pobres da nação. E a questão da fome é tão séria que o cidadão pode não ter onde dormir, ele dorme na calçada, pode não ter onde tomar banho, que ele fica sem banho, agora, sem comer, não dá.
            Gostaria de juntar um leque de pessoas, de entidades, de Igrejas, para ver se despertamos neste país a consciência contra a fome. Porque antigamente, quando eu era pequeno, minha mãe era miserável, não tinha o que comer, mas se chegasse um mendigo em nossa casa, pedindo um prato de comida, o que fazíamos naquela época? Mandávamos entrar, e dávamos um prato de comida. Hoje, nós estamos tão assustados que se chega alguém pedindo comida, a primeira coisa que se faz é fechar o portão e não atender. Nós estamos perdendo por indução, por causa da ideologia vendida pela televisão, aquilo que nós tínhamos de mais sagrado que era o nosso espírito de solidariedade. Nós estamos perdendo isso e precisamos recuperar.
            Por isso, eu quero dizer a vocês que as diferenças ideológicas não devem impedir que as pessoas se unam. Na votação do impeachment do Collor, todos nós nos unimos. Estávamos com a disposição de arrumar 336 votos, e não tive nenhum constrangimento em conversar com o Quércia, do mesmo modo que conversava com o Lindberg, o Ibañez, ou qualquer outra pessoa. Terminada essa fase, houve afastamento ideológico entre várias pessoas, mas poderá haver momento em que tenhamos que nos juntar outra vez. O Itamar está na presidência e nós precisamos voltar a nos mobilizar para fazer este país voltar a andar. Este país está parado, atrofiado, estagnado, e nós temos que fazer este país andar, temos que discutir corretamente com Itamar a distribuição da riqueza, o que se vai fazer neste país.
            Nós entregamos um projeto, não para o Itamar, mas para os partidos políticos, um projeto que não é do PT, é um projeto que entregamos para o PV do B, PTR, PSB, o PSDB, o PDT, mesmo fazendo oposição ao Itamar. Quando for necessário, nós precisamos chegar, não apenas ao Itamar, mas a todos os presidentes de partidos políticos, com uma proposta concreta para dizer à sociedade: nós sabemos fazer oposição, nós sabemos tirar governo, mas nós temos responsabilidade com este país, e nós queremos que o governo execute essa política, porque essa política é que poderá recuperar a esperança do nosso povo, de que o país vá crescer. É com essa visão que nós apresentamos um projeto para discussão. E eu espero que o presidente Itamar (depois do dia da votação do impeachment) faça um pronunciamento à nação e diga concretamente o que ele vai fazer e quais são suas primeiras medidas. Porque eu já começo a ver grandes companheiros nossos que estão no começando a justificar o injustificável. Nós não poderemos mais ouvir de um governo a seguinte tese: é meu primeiro ano, vocês têm que aguentar. É o primeiro ano para ele, mas para nós já faz vinte ou trinta anos que estamos esperando esse primeiro ano. Por isso, vocês vão ter que assumir essa briga, para não deixarmos que daqui a alguns meses o povo comece a ficar com saudades do Collor. Nós pensávamos que o Maluf esta morto em 1982 e percebemos que não estava. Portanto, temos que empurrar o Itamar, e quando eu digo empurrar é para empurrar mesmo, porque podemos ficar mais dois anos na expectativa. E aí vocês, do movimento estudantil, vocês da universidade, professores, funcionários, têm um papel extraordinário, por estarem aqui em Brasília, nesse trabalho de pressão que precisamos continuar a fazer no país.

Obs.: Os negritos itálicos são os destaques do texto original; os [  ], os negritos e os negritos vermelhos são destaques nossos.

SUGESTÕES DE LEITURAS
A ética na política – Denis Rosenfeld. Brasiliense, 1992.
Ética – Adauto Novaes (org.). Sec. Municipal de Cultura de São Paulo, Companhia das Letras, 1992.