terça-feira, 3 de junho de 2014

Carta de acadêmicos ao Diretor da OECD sobre o Pisa.

OI, gente
Saiu essa carta de acadêmicos de vários países ao diretor da OECD, que é responsável pelo PISA. O original está aqui ( http://www.theguardian.com/education/2014/may/06/oecd-pisa-tests-damaging-education-academics) e eu fiz uma tradução meio rapidinha e sem revisão só para a gente poder discutir neste contexto de críticas ao Amorim Lima.  
Bjs
Simone
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Caro Dr Schleicher,
Escrevemos para você  na sua capacidade de diretor do Programa Internacional de Avaliação Estudantil (PISA) da OECD. (Organisation for Economic Co-operation and Development).
Atualmente em seu 13o ano, o Pisa é conhecido mudialmente como um instrumento de ranqueamento dos países membros e não membros da OECD ( mais de 60 países, na última contagem) de acordo com uma medida do êxito acadêmico de estudantes de 15 anos em matemática, ciência e leitura. Os resultados do Pisa, administrado a cada 3 anos, são aguardados ansiosamente por governos, ministros de educação e corpos editorais de periódicos, e são citados em relatórios de políticas públicas inumeráveis. Estes números passaram a influenciar as práticas educacionais de muitos países de maneira profunda . Como resultado do Pisa, países reformulam seus sistemas educacionais na esperança de melhorar sua posição. A falta de progresso no Pisa já levou a declarações de crise e  "choque-Pisa" em muitos países, seguidos de pedidos de renúncia  e reformas de longo alcance seguindo a cartilha do Pisa. 
Estamos francamente preocupados com as consequências negativas dos ranqueamentos Pisa. Estas são algumas de nossas preocupações: 
• Se por um lado,  avaliações  padronizadas são usadas há décadas em muitas nações (a  despeito de sérios questionamentos sobre validade e confiabilidade), o Pisa tem contribuído com uma escalada  nesta testagem e contribuído com um aumento dramático na tendência a uma excesssivo uso de e confiança em medidas quantitativas. 

Por exemplo, nos EUA, o Pisa tem sido invocado como a grande justificativa para o recente programa "Race to the Top", que aumentou o uso de testagem padronizada para a avaliação de estudantes, professores e administradores, que ranqueiam e rotulam estudantes, professores e administradores de acordo com os resultados de testes amplamente conhecidos por suas imperfeições. ( Observem,  por exemplo, o declínio inexplicado da Finlândia do topo da tabela do Pisa). 
• O ciclo trienal de avaliação do Pisa tem causado uma tendência à busca de soluções de curto prazo desenhadas para ajudar o país a rapidamente subir no ranking, a despeito de a pesquisa mostrar que mudanças permanentes na prática educacional leva décadas, não anos, para frutificar. Por exemplo, sabemos que o status dos professores e o prestígio da profissão de ensinar tem uma influência forte na qualidade da instrução, mas este status varia fortemente entre culturas -- e políticas de curto prazo não mudam isso de maneira fácil. 
• Ao enfatizar um espectro estreito de aspectos mensuráveis da educação, o Pisa desvia a atenção de objetivos menos mensuráveis ou imensuráveis como o desenvolvimento físico, moral, cívico e artístico, desta forma, perigosamente estreitando nossa imaginação coletiva sobre o que a educação é e deveria ser. 
• Como uma organização focada no desenvolvimento econômico, a OECD é naturalmente enviesada na atenção ao  papel econômico das escolas públicas ( estatais). Mas a preparação de jovens para o emprego com renda não é o único, e nem e o principal onjetivo da educação pública. Esta deve preparar estudantes para a participação no auto governo democrático, a ação moral e uma vida de desenvolvimento e crescimento pessoal e bem estar. 

• Ao contrário de organizações das Nações Unidas como a UNESCO ou UNICEF,  que têm mandatos claros e legítimos para a melhoria da educação e da vida das crianças ao redor do mundo, a OECD não tem este mandato. E, até o momento, inexistem mecanismos de participação democrátiva no seu processo decisório no tocante às suas ações na área de educação. 

• Para a execução do Pisa e uma variedade de serviços de acompanhamento e monitoramento, a OECD abraçou o modelo de parcerias público privadas e entrou  em alianças com companhias multinacionais com fins lucrativos , que têm , potencialmente, ganhos financeiros derivados de déficits-- reais ou percebidos-  descobertos pelo Pisa. Algumas destas companhias fornecem serviços educacionais para escolas e distritos escolares norte-americanos por meio de projetos maciços e lucrativos. Estão ainda desenvolvendo planos para desenvolver educação privada com fiuns lucrativos na Africa, onde a OECD atualmente planeja a implementação do Pisa. 

• Finalmente e mais importantemente, o novo regime do  Pisa,  com seu ciclo contínuo de testagem global, traz danos às nossas crianças e empobrece nossas salas de aula, à medida em que inevitavalmente envolve mais e mais longas baterias de testes de múltipla escolha, mais receituários de aulas "prontas para entrega", e menos autonomia para os professores, Desta forma, o Pisa aumenta mais ainda os níveis já muito altos de estresse nas escolas, o que coloca em risco o bem estar de estudantes e professores. 
Estes desenvolvimentos estão em claro conflito com princípios amplamente aceitos de boa educação e prática democrática. .

  •  Nenhuma reforma consequente deveria se basear em uma única, estreita medida de qualidade. 
  • Nenhuma reforma consequente deveria ignorar o papel de fatores não-educacionais , dentre os quais as inequidades sócio-econômicas de uma nacão são de central importância. Em muitos países, inclusive nos EUA, a desigualdade tem aumentado dramaticamente nos últimos 15 anos, o que explica a vala crescente entre os níveis educacionais dos pobres e ricos, vala esta que reformas educacionais , por mais sofisticadas que sejam, não enfrentarão. 
  •  Uma organização como a OECD, como qualquer organização que afeta profundamente a vida de nossas comunidades, deveria estar aberta ao escrutínio democrático dos membros destas comunidades. 
Estamos escrevendo não apenas para apontar déficits e problemas. 
Gostaríamos de oferecer idéias construtivas e sugestões que podem ajudar a aliviar as preocupações mencionadas acima. Embora estas idéias não sejam completas, elas ilustram comoa  aprendizagem poderia ser melhorada sem os efeitos negativos mencionados., 
1 Develover alternativas a "tabelas de campeonatos". Explorar formas mais significativas e menos facilmente sensacionalizáveis de comunicar os resultados de avaliações. Por exemplo, comparar países em desenvolvimento, onde jovens de 15 anos frequentemente estão na força de trabalho infantil, com países de primeiro mundo, não faz sentido educacional nem político e coloca a OECD numa posição em que pode ser acusada de colonialismo educacional. 

2 Abrir espaço para a participação de um espectro completo de constituintes e de membros da academia: atualmente , os grupos com a maior influência sobre o que é avaliado internacionalmente na educação são psicometristas, estatísticos e economistas. Certamente, merecem um assento à mesa, mas também deveriam estar lá sentados outros grupos: pais, educadores, administradores, líderes comunitários, estudantes, assim como acadêmicos de disciplinas como antropologia, sociologia, hsitória, filosofia, linguística, assim como as artes e humanidades. Como avaliamos a educação de jovens de 15 anos deveria ser o objeto de discussão de todos estes grupos nos níveis  local, nacional e internacional. 
.
3 Incluir organizações nacionais e internacionais na formulação de métodos e padrões  de avaliação cuja missão vá além do aspecto econômico da educação pública e que se ocupam da saúde, do desenvolvimento humano, bem estar e felicidade dos estudantes e educadores. Isto incluiria as organizaçõea das Nações Unidas mencionadas acima, assim como associações de professsores, pais, e administradores, para mencionar apenas alguns. 
4 Publicar os custos diretos e indiretos da administração do Pisa de modo que contribuintes de países membro possam avaliar a despesa frente a usos alternativos das milhares de dólares gastos nestes testes, de modo a determinar se desejam continuar sua participação, 

5 Recepcionar a supervisão por equipes  internacionais de monitoramento que possam observar a adminsitração do Pisa desde a sua concepção até a sua execução, de modo que perguntas sobre o formato dos testes e protocolos  estatísticos e de pontuação sejam avaliados de maneira equilibradas face aos questionamentos sobre  vieses ou comparações injustas entre grupos. 
6 Fornecer informações detalhadas sobre o papel de companhias com fins lucrativos privadas na preparação, excução e monitoramento das avaliações Pisa para evitar a aparência ou realidade de conflitos de interesse. 
7 Desacelerar o rolo-compressor da testagem. Para que se tenha tempo para discutir estas questões em nível local, nacional e internacional, considerar pular o próximo ciclo Pisa. Isto permitiria o tempo para a incorporação do aprendizado coletivo derivado destas deliberações sugeridas em um novo e melhorado modelo de avaliação. 
Presumimos que os experts do Pisa da  OECD's Pisa experts são motivados por um desejo sincero de melhoria da educação. Mas é difícil compreender como a sua organização tornou-se o árbitro global  dos meios e fins da educação em todo o mundo. O foco estreito da OECD na testagem padronizada arrisca o assassinato da alegria no aprendizado, tornando-o  um sacrifício
À medida em que o Pisa vai levando governos a adentrarem uma competição internacional pelas melhoras notas, a OECD assumiu o poder de formatar políticas educacionais em todo o mundo, sem que tenha havido qualquer debate a respeito da necessidade ou limitações dos objetivos da OECD.
Estamos preocupados com a possibilidade de  que a mensuração de uma grande diversidade de tradições educacionais e culturas usando uma régua  única, estreita e enviesada possa causar danos irrversíveis às nossas escolas e nossos estudantes. 

Sinceramente,

Andrews, Paul Professor of Mathematics Education, Stockholm University
Atkinson, Lori New York State Allies for Public Education
Ball, Stephen J Karl Mannheim Professor of Sociology of Education, Institute of Education, University of London
Barber, Melissa Parents Against High Stakes Testing
Beckett, Lori Winifred Mercier Professor of Teacher Education, Leeds Metropolitan University
Berardi, Jillaine Linden Avenue Middle School, Assistant Principal
Berliner, David Regents Professor of Education at Arizona State University
Bloom, Elizabeth EdD Associate Professor of Education, Hartwick College
Boudet, Danielle Oneonta Area for Public Education
Boland, Neil Senior lecturer, AUT University, Auckland, New Zealand
Burris, Carol Principal and former Teacher of the Year
Cauthen, Nancy PhD Change the Stakes, NYS Allies for Public Education
Cerrone, Chris Testing Hurts Kids; NYS Allies for Public Education
Ciaran, Sugrue Professor, Head of School, School of Education, University College Dublin
Deutermann, Jeanette Founder Long Island Opt Out, Co-founder NYS Allies for Public Education
Devine, Nesta Associate Professor, Auckland University of Technology, New Zealand
Dodge, Arnie Chair, Department of Educational Leadership, Long Island University
Dodge, Judith Author, Educational Consultant
Farley, Tim Principal, Ichabod Crane School; New York State Allies for Public Education
Fellicello, Stacia Principal, Chambers Elementary School
Fleming, Mary Lecturer, School of Education, National University of Ireland, Galway
Fransson, Göran Associate Professor of Education, University of Gävle, Sweden
Giroux, Henry Professor of English and Cultural Studies, McMaster University
Glass, Gene Senior Researcher, National Education Policy Center, Santa Fe, New Mexico
Glynn, Kevin Educator, co-founder of Lace to the Top
Goldstein, Harvey Professor of Social Statistics, University of Bristol
Gorlewski, David Director, Educational Leadership Doctoral Program, D'Youville College
Gorlewski, Julie PhD, Assistant Professor, State University of New York at New Paltz
Gowie, Cheryl Professor of Education, Siena College
Greene, Kiersten Assistant Professor of Literacy, State University of New York at New Paltz
Haimson, Leonie Parent Advocate and Director of "Class Size Matters"
Heinz, Manuela Director of Teaching Practice, School of Education, National University of Ireland Galway
Hughes, Michelle Principal, High Meadows Independent School
Jury, Mark Chair, Education Department, Siena College
Kahn, Hudson Valley Against Common Core
Kayden, Michelle Linden Avenue Middle School Red Hook, New York
Kempf, Arlo Program Coordinator of School and Society, OISE, University of Toronto
Kilfoyle, Marla NBCT, General Manager of BATs
Labaree, David Professor of Education, Stanford University
Leonardatos, Harry Principal, high school, Clarkstown, New York
MacBeath, John Professor Emeritus, Director of Leadership for Learning, University of Cambridge
McLaren, Peter Distinguished Professor, Chapman University
McNair, Jessica Co-founder Opt-Out CNY, parent member NYS Allies for Public Education
Meyer, Heinz-Dieter Associate Professor, Education Governance & Policy, State University of New York (Albany)
Meyer, Tom Associate Professor of Secondary Education, State University of New York at New Paltz
Millham, Rosemary PhD Science Coordinator, Master Teacher Campus Director, SUNY New Paltz
Millham, Rosemary Science Coordinator/Assistant Professor, Master Teacher Campus Director, State University of New York, New Paltz
Oliveira Andreotti Vanessa Canada Research Chair in Race, Inequality, and Global Change, University of British Columbia
Sperry, Carol Emerita, Millersville University, Pennsylvania
Mitchell, Ken Lower Hudson Valley Superintendents Council
Mucher, Stephen Director, Bard Master of Arts in Teaching Program, Los Angeles
Tuck, Eve Assistant Professor, Coordinator of Native American Studies, State University of New York at New Paltz
Naison, Mark Professor of African American Studies and History, Fordham University; Co-Founder, Badass Teachers Association
Nielsen, Kris Author, Children of the Core
Noddings, Nel Professor (emerita) Philosophy of Education, Stanford University
Noguera, Pedro Peter L. Agnew Professor of Education, New York University
Nunez, Isabel Associate Professor, Concordia University, Chicago
Pallas, Aaron Arthur I Gates Professor of Sociology and Education, Columbia University
Peters, Michael Professor, University of Waikato, Honorary Fellow, Royal Society New Zealand
Pugh, Nigel Principal, Richard R Green High School of Teaching, New York City
Ravitch, Diane Research Professor, New York University
Rivera-Wilson Jerusalem Senior Faculty Associate and Director of Clinical Training and Field Experiences, University at Albany
Roberts, Peter Professor, School of Educational Studies and Leadership, University of Canterbury, New Zealand
Rougle, Eija Instructor, State University of New York, Albany
Rudley, Lisa Director: Education Policy-Autism Action Network
Saltzman, Janet Science Chair, Physics Teacher, Red Hook High School
Schniedewind, Nancy Professor of Education, State University of New York, New Paltz
Silverberg, Ruth Associate Professor, College of Staten Island, City University of New York
Sperry, Carol Professor of Education, Emerita, Millersville University
St. John, Edward Algo D. Henderson Collegiate Professor, University of Michigan
Suzuki, Daiyu Teachers College at Columbia University
Swaffield, Sue Senior Lecturer, Educational Leadership and School Improvement, University of Cambridge
Tanis, Bianca Parent Member: ReThinking Testing
Thomas, Paul Associate Professor of Education, Furman University
Thrupp, Martin Professor of Education, University of Waikato, New Zealand
Tobin, KT Founding member, ReThinking Testing
Tomlinson, Sally Emeritus Professor, Goldsmiths College, University of London; Senior Research Fellow, Department of Education, Oxford University
Tuck, Eve Coordinator of Native American Studies, State University of New York at New Paltz
VanSlyke-Briggs Kjersti Associate Professor, State University of New York, Oneonta
Wilson, Elaine Faculty of Education, University of Cambridge
Wrigley, Terry Honorary senior research fellow, University of Ballarat, Australia
Zahedi, Katie Principal, Linden Ave Middle School, Red Hook, New York
Zhao, Yong Professor of Education, Presidential Chair, University of Oregon

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