terça-feira, 17 de março de 2015

[romanticoscandangos] E se os alunos pudessem projetar a sua escola

Divulgando...

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A insatisfação que Samuel Levin sentia em relação à escola, e que via refletida na maioria dos seus colegas, era derivada de algo nada incomum nas salas de aula: desinteresse pelos objetos de estudo e, consequentemente, um aprendizado cheio de falhas e inconsistências.
Motivado por isso, e pela provocação de sua mãe, o garoto procurou a direção da escola com um projeto ambicioso. Segundo suas próprias palavras:
“[A] intenção era projetar uma escola na qual os estudantes estivessem completamente engajados e apaixonados pelo que estivessem aprendendo, tivessem a experiência de verdadeiramente obter maestria sobre algo, ou desenvolver expertise em algo, e onde estivessem aprendendo a aprender.”
O ingrediente principal para atingir esse objetivo seria a apropriação, pelos estudantes, do controle do seu próprio processo de aprendizado.
A direção da escola, talvez para a surpresa de Sam, acolheu a ideia e autorizou o desenvolvimento de um projeto piloto, durante um semestre. O grupo inicial tinha 8 alunos, dos 3 últimos anos de High School (equivalentes ao 1º, 2º e 3º ano do ensino médio no Brasil). O desempenho escolar prévio não foi levado em conta no processo de admissão. Assim, o grupo tinha desde alunos que tiravam nota máxima na maioria das matérias, até outros que obtinham notas bastante ruins.

O Programa

O “Projeto Independente” começou com uma primeira semana de “descompressão”, com atividades que tinham por objetivo desmontar as estruturas mentais e pré-concepções que os estudantes, naturalmente, formaram após mais de dez anos de ensino tradicional e prepará-los para a liberdade e responsabilidade de assumir o comando do seu próprio processo educacional.
Após esse período inicial, os alunos dividiram seu tempo na direção de três objetivos:
  1. O estudo de conteúdo acadêmico;
  2. Uma “Empreitada Pessoal” de longo prazo, e;
  3. Uma “Empreitada Coletiva”.

Conteúdo Acadêmico

O Projeto Independente - Conteúdo acadêmico

O estudo do conteúdo acadêmico tradicional ocorreu durante as manhãs das primeiras quinze semanas do semestre (de um total de 18). A divisão desse conteúdo se deu de uma forma muito menos fragmentada do que nas escolas tradicionais. Os estudantes consideraram que há duas formas básicas de abordagem do conhecimento: Ciência e Arte. Basicamente, uma “Ciência” é algo sobre o qual você questiona, enquanto uma “Arte” é algo que você pratica. Dessa forma, na primeira metade do semestre eles estudaram Ciências Naturais (tradicionalmente, química e biologia) e Ciências Sociais (história, geografia, sociologia), e, na segunda metade, Artes Literárias (inglês, literatura, dramaturgia) e Artes Matemáticas (!).
O processo de estudo foi o mesmo durante todo o período. Nas segundas-feiras, cada estudante escolhia uma questão sobre o assunto da semana. Segundo Peter Boyce, um dos estudantes do grupo piloto, “O mais importante sobre essa pergunta é que você realmente precisa querer saber a resposta. Se a pergunta é sua, descobrir a resposta vai fazer você se sentir ótimo.”. Então, cada estudante deveria pesquisar durante as manhãs dos dias seguintes, da forma que preferisse: pesquisa em livros ou na Internet, conversa com professores ou experts ou através de experimentação direta. Finalmente, eles deviam apresentar o resultado para o grupo na sexta-feira para, ao mesmo tempo, prestar contas do que aprenderam e ensinar aos demais. “Meu objetivo em cada apresentação é ser o mais cativante possível e tornar o meu interesse pelo assunto o mais contagiante possível – tentar fazer todo mundo se interessar”, explica Peter.

Empreitada Pessoal

O Projeto Independente - Empreitada pessoal

Em paralelo ao estudo de conteúdo acadêmico, as primeiras quinze semanas do semestre também foram dedicadas às Empreitadas Pessoais. Ao contrário das questões que eram exploradas durante uma semana, a Empreitada Pessoal, à qual os estudantes se dedicavam durante a tarde, era um projeto de longo prazo, a ser concluído no final do semestre. Os estudantes eram completamente livres para definir qualquer projeto, como, por exemplo, escrever um romance, construir um barco, fazer um filme ou realizar um experimento científico mais complexo. A única exigência é que a empreitada escolhida deveria ser algo que realmente lhes entusiasmasse.
Os estudantes também eram livres para planejar a agenda e a execução do projeto, mas haviam reuniões periódicas onde todos reportavam seu progresso e discutiam suas dificuldades. A maioria deles afirma que essa pressão do grupo é muito mais forte e mais eficiente do que a pressão que recebiam para entregar os trabalhos tradicionais da escola, em troca de notas, e que isso fazia com que sua dedicação ao objeto de estudo fosse muito maior.
Ao final das quinze semanas, os estudantes deveriam fazer duas apresentações finais sobre suas Empreitadas Pessoais. A primeira era para o grupo, que fazia fortes críticas e sugestões de melhorias. Após o refinamento final, baseado nesse feedback dos colegas, havia uma outra apresentação para um público externo, de aproximadamente oitenta pessoas, geralmente formado pelos demais alunos e professores da escola.
Segundo Sam Levin, “A natureza pública, performática e celebratória da noite servia como uma barra para elevar a qualidade das empreitadas a um patamar mais alto do que elas teriam chegado de outra maneira, e proporcionar um contexto para dar forma a algumas das empreitadas mais abstratas. Por exemplo, o estudante cuja empreitada era escrever uma novela tinha um objetivo muito claro: escrever uma novela. Entretanto, o estudante cuja empreitada era aprender culinária poderia perder foco e direção, se não tivesse que trabalhar em direção à apresentação final, que era preparar uma refeição para oitenta pessoas.”

Empreitada Coletiva

O Projeto Independente - Empreitada coletiva

Por fim, nas últimas três semanas do semestre, o grupo trabalhava durante todas as manhãs e tardes em uma Empreitada Coletiva. A ideia era que o grupo explorasse qualquer problema da comunidade ou do mundo e oferecesse uma solução para ele. A turma do semestre piloto elegeu a “Educação” como tema e decidiu realizar um documentário que discutia alguns problemas do atual sistema educacional e oferecia a experiência do Projeto Independente como uma possível solução.

Os resultados

Segundo os participantes do Projeto Independente, o resultado foi excelente. Após concluírem a High School, muitos foram aceitos em algumas das mais concorridas universidades americanas, além de terem recebido contato de mais de 80 escolas dos Estados Unidos e de outros países, interessadas em replicar o projeto.
Mas, certamente, os benefícios mais profundos foram as habilidades que os estudantes conquistaram e cultivaram durante o projeto. Em um paper que descreve a experiência e seus resultados, Sam Levin diz que:
“Os estudantes aprenderam como conduzir pesquisas e utilizar o método científico, como pensar matematicamente, como ler e discutir literatura, e como escrever em resposta ao que leram. Eles aprenderam como organizar seu tempo e estruturar sua jornada de trabalho, e como refletir sobre e monitorar seu próprio trabalho. Eles também adquiriram maestria sobre algo e, ao fazer isso, aprenderam como dominar um assunto. Eles aprenderam como comunicar seu pensamento e como criticar e instigar seus colegas. Finalmente, os estudantes aprenderam a aprender, aprenderam a ensinar e aprenderam a trabalhar.”

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