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TIPOS DE CONSCIÊNCIA EM PAULO FREIRE
TIPOS DE CONSCIÊNCIA EM PAULO FREIRE
O que caracteriza esses tipos de consciência:
A consciência crítica “é a representação das coisas e dos fatos como se dão na existência empírica. Nas suas correlações causais e circunstanciais”.
“A consciência ingênua (pelo contrário) se crê superior aos fatos, dominando-os de fora e, por isso, se julga livre para entendê-los conforme melhor lhe agradar”.
“A consciência mágica, por outro lado, não chega a acreditar-se superior aos fatos, dominando-os de fora” [...] nem “se julga livre para entendê-los como melhor lhe agradar”. Simplesmente os capta, emprestando-lhes um poder superior, que a domina de fora e a que tem, por isso mesmo, de submeter-se com docilidade. “É próprio desta consciência o fatalismo, que leva ao cruzamento dos braços, à impossibilidade de fazer algo diante do poder dos fatos, sob os quais fica vencido o homem” (FREIRE, 2006, p. 113-114).
Tem também “A consciência astuta, esperta, manhosa, maldosa... ela guarda semelhanças com a consciência crítica, exceto que, enquanto a consciência crítica tende a se engajar na luta em favor dos oprimidos, a consciência astuta, sempre busca estar do lado dos opressores e contra os oprimidos a fim de se beneficiar através do “jeitinho”; é regida pela ‘Lei de Gerson’, caracterizando-se assim como aproveitadora.
A consciência crítica se caracteriza pela profundidade com que os sujeitos podem interpretar os problemas e engajar-se sociopoliticamente e também pelo pensar autônomo e comprometido, que mobiliza para o engajamento. Quanto mais a consciência torna-se crítica, mais democrática e dialógica ela é. O desenvolvimento da consciência crítica é favorecido em um processo de transformação social, econômica e cultural acompanhada por um trabalho educativo crítico, dialógico, democrático, em que pode ser desenvolvida a capacidade de refletir, decidir e fazer escolhas conscientes sobre determinada ação (KRONBAUER, 2016).
Em entrevista à CNN o Presidente Lula Denuncia e Critica a Rapinagem das elites contra o país
Vídeo que dá pra postar no status do WhatsApp e no stories do Instagram tranquilamente.
Quem tem Instagram e Facebook configura pra postar nos dois automaticamente.
Vamos dar essa força ao nosso Presidente Lula, por favor . 👆🏻
E não podemos nos esquecer que tudo isso é com a defesa
irrestrita dos presidentes da Câmara (Arthur Lira) e do Senado (Rodrigo
Pacheco), dos Partidos que compõem o "Centrão" (Progressistas,
Republicanos, Partido Liberal, Partido Trabalhista Brasileiro e
Patriotas (agora fundidos), Movimento Democrático Brasileiro, União
Brasil, Podemos e Partido Social Democrático), e defesa velada do
presidente do Banco Central (Campos Neto). Além da Mídia Corporativa Golpista (PIG no dizer do saudoso Paulo Henrique Amorin - Conversa Afiada) e dos "Economistas" que servem ao Mercado Financeiro.
O renomado neurocientista que não acredita no livre-arbítrio: 'Somos a soma do que não podemos controlar'
Retirado de: BBC News Brasil
O renomado neurocientista que não acredita no livre-arbítrio: 'Somos a soma do que não podemos controlar'
Robert Sapolsky é professor de biologia e neurologia na Universidade de Stanford, nos EUA.
Article information
- Author, Margarita Rodríguez
- Role, Da BBC News Mundo
- 27 fevereiro 2024
Em uma sociedade construída em torno da ideia de que as pessoas deveriam se sentir culpadas pela falta de controle sobre si ou outras coisas, se dar conta de que talvez não exista o livre-arbítrio pode ser um pensamento libertador.
É isso que pensa o neurologista americano Robert Sapolsky, professor de Biologia e Neurologia da Universidade de Stanford, nos EUA. Para ele, o livre-arbítrio - fazer escolhas por vontade própria, sem qualquer influência - é uma ilusão.
Considerado um dos cientistas mais venerados da atualidade pela revista New Scientist, Sapolsky passou três décadas estudando babuínos selvagens no Quênia, o que lhe permitiu descobrir interações sociais complexas.
Suas pesquisas ajudaram a compreender aspectos do comportamento humano e o impacto do estresse na saúde.
Mas sua posição é minoritária entre pensadores contemporâneos.
Sapolsky é autor de vários livros, entre eles de Comporte-se: A biologia humana em nosso melhor e pior (pela Companhia das Letras) e de Determined: A Science of Life Without Free Will (Determinado: A ciência da vida sem livre arbítrio, em tradução livre), lançado no final do ano passado nos EUA e ainda sem edição em português.
No livro mais recente, Sapolsky afirma que "detrás de cada pensamento, ação e experiência há uma cadeia de causas biológicas e ambientais, que se estende desde o momento em que surge o neurônio até o início de nossa espécie e mais além. Em nenhuma parte desta sequência infinita há um lugar onde o livre-arbítrio pode desempenhar um papel".
Sapolsky conversou com a BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, sobre o livro.
O que é livre-arbítrio?
Segundo o pesquisador, a melhor forma de explicar o livre-arbítrio é explicando o que não é livre-arbítrio.
"É onde as pessoas cometem o maior erro. Circunstâncias em que tomamos uma decisão existem todos os dias, por exemplo, onde escolher o que comer. Mas não é disso que falamos quando falamos em livre-arbítrio", explica.
"Para tomar uma decisão, estamos conscientes, temos uma intenção e agimos em conformidade. Sabemos qual será o resultado provável, sabemos também o que temos ou o que não temos que fazer, temos alternativas e, para a maioria das pessoas, intuitivamente isso seria ter livre-arbítrio."
"Nos Estados Unidos, todo o sistema jurídico é baseado na ideia de que as pessoas têm escolhas e, conscientemente, poderiam ter tomado outra decisão."
Mas, segundo Sapolsky, sua perspectiva vai muito além disso.
"Como você se tornou o tipo de pessoa que tende a ter esse tipo de intenção ou a tomar certo tipo de decisão? Como isso aconteceu? E aqui é onde o livre-arbítrio simplesmente não existe, aí é onde ele evapora."
Outra área onde as pessoas tendem “emocionalmente e intuitivamente” a ver o livre-arbítrio está em grandes conquistas, diz Sapolsky.
Por exemplo, quando você olha para alguém que talvez não fosse tão talentoso em determinadas áreas e, ainda assim, com muito trabalho e autodisciplina, se destacou.
"Quando a pessoa poderia estar curtindo a vida com os outros, ela ficou estudando. E isso é muito inspirador. Talvez ela não tivesse uma ótima memória ou uma grande mente lógica ou analítica, mas teve muita tenacidade."
Quando alguém tem muito talento mas os outros consideram que a pessoa “os disperdiçou”, também tendem a pensar em livre-arbítrio - a pessoa teria escolhido não agir.
“Essas são duas áreas onde as pessoas simplesmente decidem que é onde está o livre-arbítrio, mas ele não está lá. Acho que não está em lugar algum.”
Quais os fatores que nos levam a tomar as decisões que tomamos?
Determinismo
Sapolsky propõe que quando o nosso cérebro gera um comportamento particular, ele é determinado por algo que aconteceu antes, que, por sua vez, é determinado por algo que ocorreu antes disso, numa longa cadeia.
“Para mim, é como se cada momento fosse resultado do que veio antes”, afirma ele, explicando o que é determinismo. “Este é um mundo em que não há nada que aconteça sem explicação, sem um precedente.”
“O que aconteceu, aconteceu por causa do que aconteceu antes e isso se aplica a todos os mecanismos que nos tornam quem somos.”
Sapolsky parou de acreditar no livre-arbítrio quando era adolescente.
“Tem sido um imperativo moral para mim ver os humanos sem julgá-los e sem acreditar que alguém merece algo especial. Isso é viver sem odiar e sem acreditar que mereço privilégios”, escreve ele no livro.
“Se você aceita que não existe livre-arbítrio, que somos nada mais nada menos que a soma da biologia e do meio ambiente, se você realmente acredita nisso, a culpa e a punição não fazem sentido, a menos que você os entenda em termos instrumentais”, explica ele à BBC News Mundo.
Por exemplo, diz ele, se pegarmos uma lesma-do-mar do gênero Aplysia, um molusco que tem sido objeto de extensos estudos no campo da neurociência, sabemos que se batermos na cabeça dele, isso causará uma reação.
“Você faz isso para entender o comportamento. Você não bate nele porque acha que ele é mau”, explica.“Da mesma forma, elogios e recompensas não têm sentido em si mesmos. Eles podem ser usados instrumentalmente, mas não são virtudes em si.”
“E se for esse o caso, ninguém tem o direito de ter as suas necessidades consideradas mais importantes do que as necessidades dos outros. E odiar alguém faz tanto sentido quanto odiar um coronavírus.”
“Algo precisa ser feito sobre o fato de que todos nós fomos criados para aceitar que algumas pessoas são tratadas muito melhor do que outras por coisas sobre as quais elas não tiveram nenhum controle”, afirma.
"Da mesma forma, alguns são tratados de forma muito pior por coisas sobre as quais não tiveram controle. O maior problema é que tratamos isso com naturalidade na maior parte do tempo."
Teias de Aranha
Na discussão sobre o livre-arbítrio, há uma pergunta que, para Sapolsky, é fundamental: de onde veio a intenção (para fazer determinada coisa)?
Não se fazer essa pergunta, diz ele, é como acreditar que tudo o que é preciso para avaliar um filme é ver apenas os últimos três minutos.
Para me explicar o significado dessa pergunta, ele pega uma caneta e diz que está fazendo esse ato conscientemente, que o ato de segurá-la é “cheio de intenção”.
“É inconcebível para mim imaginar todas as coisas que levaram a este momento, seria muito difícil fazê-lo”, afirma.
Além disso, “nossa intenção ao fazer algo parece tão poderosa que nem imaginamos que não poderíamos ter essa intenção se quiséssemos”.
Ou em outras palavras: nosso desejo de fazer algo é tão forte que não passa pela nossa cabeça que não podemos não desejar o que desejamos.
O pesquisador descreve outro cenário: imagine um homem que assassinou um grupo de pessoas.
Aos 10 anos, esse indivíduo havia sofrido um acidente de carro que destruiu 75% de seu córtex frontal, área do cérebro importante para a interpretação, expressão e regulação das emoções.
“Por que essa pessoa se tornou quem é? Um único acontecimento [o acidente] foi como um terremoto” em sua vida, diz ele. "Agora olhe para o resto de nós. Imagine que existem milhões e milhões de teias de aranha invisíveis, pequenos fios, que trouxeram você até este momento e fizeram de você quem você é."
O acidente de trânsito no caso do criminoso ou a altura do corpo de um astro do basquete são “causas únicas” e são “muito fáceis de entender”.
Os problemas surgem – explica o especialista – quando abordamos a “causalidade distribuída”.
“Quando falamos sobre quem somos, na maioria dos casos são milhões desses pequenos fios invisíveis juntos, isso é tão determinístico quanto ter seu córtex frontal destruído em um acidente de carro."
O argumento científico
Sapolsky explica que qualquer neurônio (célula do sistema nervoso) funciona como resultado do que os outros milhares de neurônios ao seu redor estão fazendo.
"Ele poderia ter conexões com até 50 mil outros neurônios, não é uma ilha. O que quer que esteja fazendo se enquadra nesse contexto."
Como argumento em defesa de sua tese, ele pede que lhe seja mostrado “um neurônio (ou um cérebro) cuja geração de comportamento é independente da soma de seu passado biológico”.
O professor nos convida a pensar na nossa adolescência, na nossa infância, em quando estávamos no útero.
"Os seus neurônios são compostos pelos genes com os quais você começou quando era uma célula."
E muito antes disso: "Os seus antepassados eram pastores ou agricultores? Viveram numa floresta tropical ou no deserto? Porque isso será transmitido século após século e o trabalho de cada geração é esculpir o cérebro dos seus filhos para que eles tenham os mesmos valores culturais".
O mesmo vale para outros mecanismos de funcionamento do corpo.
O trifosfato de adenosina (ATP), por exemplo, é uma molécula que as células utilizam para obter energia.
Se você não dormiu bem na noite passada ou não comeu, certas células apresentarão menos ATP do que o normal.
"Anos atrás, meu laboratório mostrou que se você estiver sob estresse enquanto dorme, acumulará menos ATP no cérebro do que se não estivesse estressado."
Outro exemplo são os hormônios. Se tivermos um nível mais elevado de um determinado hormônio, isso pode influenciar se, por exemplo, nos sentiremos mais irritados ou mais abertos a correr riscos, e também o quão sensível será o nosso cérebro a determinados estímulos externos.
Sapolsky nos lembra que os hormônios regulam os genes e que, por sua vez, os genes têm muito a ver com a encruzilhada da tomada de decisões.
Com tudo isso em mente, ele coloca o desafio: “vá e mude todos esses fatores. Se o neurônio fizer exatamente a mesma coisa, isso é livre-arbítrio."
"Mostre-me que seu cérebro apenas produziu um comportamento independente de tudo isso, e se você fizer isso, estará demonstrando livre-arbítrio", diz ele.
Para o neurobiólogo, no século 21 temos muito conhecimento científico que tem mostrado o quão importante são os genes, a parte hormonal, o meio ambiente como peças que, juntas, nos tornam quem somos.
“Não me cabe provar que livre-arbítrio não existe. Acho que o ônus da prova recai sobre as pessoas que insistem que existe livre-arbítrio”, diz ele. "Mostre-me hormônios que fazem o oposto do que normalmente fazem. Mostre-me que você acabou de mudar sua sequência de DNA. Faça isso e depois vamos falar sobre livre-arbítrio."
Visão pessimista
Mas essa não seria uma visão um pouco pessimista? Afinal, qual seria o sentido de nos esforçarmos para tomar as melhores decisões se, no final, como ele diz em seu livro, “não somos nem mais nem menos do que a soma do que não podemos controlar”: a nossa biologia, o nosso ambiente e a interação entre os dois.
"Penso que é totalmente pessimista", responde, explicando por que acha não ser a pessoa certa para responder a essa pergunta.
"Porque tive sorte na vida, as coisas correram bem para mim por motivos que não controlo.”
Ele afirma que muitas pessoas não tiveram a mesma sorte e que a culpa não é delas ou por que lhes falta autocontrole.
“Para a maioria das pessoas, isso deveria ser uma ótima notícia, porque é toda uma sociedade que foi construída em torno da ideia de que você deveria se sentir muito mal consigo mesmo ou com coisas sobre as quais não tem controle”.
Na verdade, ele acredita que a ideia de que não somos os donos do nosso destino pode ser uma visão bastante “libertadora e humana”.
Reações
Embora ao longo da história tenha havido alguns céticos do livre-arbítrio, também há muitos que, dentro e fora da academia, defendem a sua existência.
O livro de Sapolsky gerou reações distintas.
Adam Piovarchy, pesquisador da Universidade de Notre Dame, escreveu um artigo no site de notícias científicas The Conversation intitulado: "Professor de Stanford diz que a ciência prova que o livre-arbítrio não existe. Veja por que ele está errado."
Piovarchy sustenta que Sapolsky comete o erro de assumir que as questões sobre o livre-arbítrio “são respondidas simplesmente observando o que a ciência diz”, e ele acrescenta que o livre-arbítrio é também uma questão metafísica e moral, algo que os filósofos vêm estudando há muito tempo.
John Martin Fischer, filósofo e professor da Universidade da Califórnia, especialista em livre-arbítrio, também questiona a abordagem do neurocientista.
“Sapolsky deseja abrir nossos olhos para o que ele considera nossas falsas crenças de que somos livres e moralmente responsáveis, e até mesmo agentes ativos, três aspectos centrais e fundamentais da vida humana e de nossa navegação através dela”, escreveu Fischer em uma resenha publicada pela Universidade de Notre Dame. Segundo ele, o cenário é muito diferente se o problema é abordado pela perspectiva da filosofia. “A ciência, claro, é relevante; mas isso não torna o livre-arbítrio uma questão científica.”
Sapolsky não vê as coisas dessa forma: “de certa forma, só a ciência tem algo a dizer sobre isso”, ele me diz, pois é o que nos ajuda a “entender como você se tornou a pessoa que é agora”.
Para o escritor Oliver Burkeman, o autor demonstra em sua obra que enfrentar a inexistência do livre-arbítrio “não precisa nos condenar à amoralidade ou ao desespero”.
Em resenha do livro, publicada no jornal britânico The Guardian, Burkeman afirma que quando o cientista aborda como deveríamos viver sem livre-arbítrio, sua “visão de mundo humanista vem à tona”.
“Alguns argumentam que perceber que nos falta liberdade pode nos transformar em monstros morais. Mas ele argumenta de forma comovente que é na verdade uma razão para viver com perdão e compreensão, para ver 'o absurdo de odiar alguém por qualquer motivo’.”
Keiran Southern escreveu no jornal The Times que "se as ideias de Sapolsky fossem amplamente aceitas, elas levariam a mudanças sociais profundas, principalmente no sistema de justiça criminal".
Talvez Sapolsky queira convencer de que o livre-arbítrio não existe, mas se não conseguir, pelo menos convida a pensar que é possível que haja menos livre-arbítrio do que se supõe.
“Já sabemos o suficiente para compreender que o número infinito de pessoas cujas vidas são menos afortunadas que as nossas não merecem ser ignoradas”, escreveu o cientista.
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terça-feira, 25 de junho de 2024
CARTA ABERTA AOS JOVENS SOBRE A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL Retirado de Brasil 247
CARTA ABERTA AOS JOVENS SOBRE A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL
(Boaventura de Souza Santos - Sociólogo)
Junho 23, 2024
“Dirijo-me aos jovens porque serão os jovens a carne para canhão da Terceira Guerra Mundial, por mais sofisticada que seja a alta tecnologia.
Dirijo-me aos jovens na condição de alguém que pela idade não vai combater na próxima guerra mundial (Terceira Guerra Mundial) e talvez nem assista ao seu início. Queria apenas transmitir-lhes as seguintes ideias, que tenho por fundamentadas: estou convencido de que se aproxima uma Terceira Guerra Mundial; ao contrário das anteriores, o campo de batalha será todo o planeta e, pela primeira vez, incluirá o território dos EUA; por mais sofisticada que seja a tecnologia militar e a Inteligência Artificial que a suporta, vão ser necessários soldados no terreno que irão morrer aos milhões, juntamente com populações civis inocentes. Mais do que em qualquer guerra anterior; esses soldados serão os jovens e não os senhores da guerra, sejam eles os políticos (que nunca submeterão a referendo a decisão de fazer a guerra), sejam os empresários e accionistas das empresas do complexo industrial-militar; a única certeza que temos sobre a guerra é que sabemos quando começa, mas não quando acaba; a especificidade da Terceira Guerra Mundial é que, quando terminar (todas as guerras terminam), estará em risco, pela primeira vez, não apenas a sobrevivência da espécie humana, mas a vida não humana do planeta. É uma previsão distópica, mas suficientemente realista para que proliferem hoje religiões centradas na ideia do apocalipse. Ao contrário da delas, a minha mensagem é espinosiana, isto é, assenta na dialéctica do medo e da esperança. Eu sei que a maioria dos jovens, quando olha para o futuro, tem muito medo e pouca esperança. Se quiserem ter mais esperança é preciso estarem preparados para incutir medo aos poderosos deste mundo que, aparentemente, deixaram de ter medo dos seus inimigos e vivem numa orgia de esperança. Antes de prosseguir, quero afirmar aos jovens que, apesar de ter nascido na Europa, falo a partir do Sul global com as lentes das epistemologias do Sul. E, por essa razão, o que disse acima é apenas meia-verdade. Vista do Sul global, a Terceira Guerra Mundial já começou (basta ter em mente o Iraque, Afeganistão, Líbia e Siria). Quando falo da futura Terceira Guerra Mundial quero apenas significar que a escala da guerra existente vai aumentar exponencialmente e que ela atingirá também os países do Norte global, a condição sine-qua-non para que algo se torne global, seja uma guerra ou uma pandemia.
O interesse em promover a guerra
Em todas as guerras há um país ou império particularmente interessado em promover a guerra. Na Primeira Guerra Mundial, o mais agressivo era o império alemão; na Segunda Guerra mundial, a Alemanha de Hitler. Ninguém no Sul global acredita que a Rússia ou a China estejam interessados em promover a guerra. Os impérios ascendentes preferem relações soma positiva a relações de soma zero (como, por exemplo, a guerra). A sua ascensão e incremento da sua influência assentam em proporcionar vantagens reais aos novos aliados ainda que sujeitas a condições de subordinação. Por isso, privilegiam a diplomacia e o multilateralismo. Pode parecer estranho dizer que a Rússia não está interessada na guerra, quando foi a Rússia que invadiu a Ucrânia em 2022. Todos os activistas da paz, entre os quais sempre me incluí, condenaram essa invasão embora dissessem desde o início (o que se confirmou depois) que essa invasão fora provocada pelos EUA com preparativos que datavam desde o fim da União Soviética em 1991. O objectivo foi desde o início enfraquecer a Rússia e provocar o seu desmembramento. Em 1997, o político norte-americano de origem polaca Zbigniew Brzezinski propunha a divisão da Rússia em três grandes unidades. Foi a mesma lógica de enfraquecimento pelo desmembramento que presidiu ao bombardeamento em 1999 da Jugoslávia (ou Sérvia), aliada da Rússia, tornando assim possível instalar uma enorme base militar dos EUA-NATO no Kosovo. Nos meios estratégicos tem-se discutido muito a chamada armadilha afegã (Afghan trap), ou seja, os meios utilizados pelos EUA (de novo, na era Brzezinski) para induzir uma invasão do Afeganistão por parte da União Soviética em dezembro de 1979 com o objectivo de a enfraquecer. Os detalhes não interessam para este texto, mas com base neles é possível suspeitar que a invasão da Ucrânia por parte da Rússia foi uma nova versão da Afghan trap, a Ukraine trap, com os mesmos propósitos, ainda que o desfecho possa ser muito diferente. A armadilha ucraniana começou a ser construída logo depois do fim da União Soviética, com a permanência da NATO depois do fim do Pacto de Varsóvia e com o projecto de inclusão da Ucrânia na NATO, ao lado de outros países que servissem de escudo contra a base naval da Rússia na Crimeia. Além da Turquia, que era membro da NATO desde 1952, juntaram-se à aliança a Roménia e a Bulgária (2004), faltando apenas a Geórgia, o que terá de passar primeiro pela estratégia de regime change (a mesma que foi utilizada na Ucrânia em 2014).
Quem promove a guerra não quer negociações reais de paz, mas encena sucessivos shows de propostas de paz sem a participação de uma das partes em guerra para que o ónus da continuação da guerra recaia sobre esta última e assim se alimente a guerra de propaganda. Foi assim que os EUA impediram a única genuína negociação de paz entre a Rússia e a Ucrânia que teve lugar dois meses depois do início da guerra. Para o efeito, foi facilmente mobilizado o então primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, cujo inconsciente imperial deve continuar assombrado pela guerra da Crimeia contra a Rússia (1853-56). Em contraste com esta atitude, a Rússia apresentou desde 2008 cinco propostas sérias de paz e segurança para a região, e todas elas foram rejeitadas pelos EUA.
Sabemos hoje que o grande rival dos EUA não é a Rússia, mas a China. Os três principais teatros de guerra em que os EUA estão actualmente envolvidos, Ucrânia, Palestina (e no Medio Oriente, em geral) e Mar da China visam o mesmo objectivo: isolar a China e impedir o acesso da China à Europa e às zonas de influência dos EUA. A guerra é sempre o último recurso, precedido frequentemente de desestabilização de regime change, ou seja, interferência activa na vida interna dos países-alvo para provocar mudanças políticas que tornem possível criar distância e hostilidade em relação à China. Se tivermos em mente que a China é hoje o país dominante nas alianças internacionais que procuram alguma margem de independência em relação ao imperialismo norte-americano (BRICS+, Shanghai Cooperation Organization), é de prever que as democracias que integram essas alianças sejam alvos de destabilização política, muito especialmente o Brasil. Aliás, o regime change é uma estratégia desenvolvida desde a Guerra Fria e bem documentada no livro de Lindsey O’Rourke: Covert Regime Change: America’s Secret Cold War (Cornell, 2018). De facto, o regime change é apenas uma das estratégias utilizadas pelo império para interferir na vida interna dos Estados-súbditos, como bem ilustra o livro do ex-jornalista do Financial Times, Matt Kennard The Racket, A Rogue Reporter vs The American Empire (nova edição, Bloombury, 2024).Os sinais da preparação para a guerra.
Em 1931 pouca gente acreditava que pudesse haver uma nova guerra quinze anos depois de ter terminado a anterior. Mas o fascismo e nazismo cresciam nos países e na consciência dos europeus e com eles a lógica da guerra como solução radical dos conflitos. Em 1936, começou a Guerra Civil de Espanha e no fim dela (1939), com o triunfo do fascismo franquista, a guerra mais ampla surgia como algo inevitável. O mesmo se diga da II Guerra Sino-Japonesa, travada entre a República da China e o Império do Japão, de 1937 a 1945.
A preparação para a guerra começa nas consciências dos cidadãos. De repente, destacados políticos da “comunidade internacional” (isto é, os EUA e a União Europeia) começam a sugerir a ideia da inevitabilidade da guerra para defender os valores da civilização ocidental. Não se questiona sobre que valores são esses nem em que consiste a ameaça, mas a solenidade dos discursos sugere que a ameaça é séria e que há que agir rapidamente. Um ministro alemão afirmou recentemente que dentro de poucos anos a Europa estaria de novo em guerra. Tudo isto é afirmado com um tom de normalidade que banaliza os 78 milhões de mortos nas duas últimas guerras mundiais e os muitos milhões que morreram no conjunto das guerras que se sucederam em diferentes partes do mundo, e sempre com a intervenção activa dos EUA e dos seus aliados: Coreia, Vietnam, Indonésia, América Central, Argélia, Angola, Moçambique, Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Iéemen, Sudão e Palestina. Surpreende igualmente que a ameaça nuclear, que durante décadas foi o grande dissuasor da guerra pela lembrança de Hiroshima e Nagasaki e pela imensa catástrofe que significaria, começa hoje a ser encarada como uma hipótese realista nos meios militares. Annie Jacobsen (a mesma jornalista que revelou a Operação Paperclip, o programa dos serviços secretos que trouxeram para os EUA os cientistas Nazis) acaba de publicar um livro muito revelador do que acabo de escrever: Nuclear War: A Scenario (Dutton, 2024).A escalada da guerra está em pleno desenvolvimento e é isso que me leva a alertar os jovens para a possibilidade de a Terceira Guerra Mundial estar próxima. Dois indicadores justificam o meu alerta. Por um lado, acaba de ser dada luz verde ao uso de mísseis e outro armamento, muito dele fornecido por países da NATO, para atingir alvos em território russo. Isto significa a transformação da guerra em guerra entre a Rússia e a NATO, ou seja, uma guerra entre potências nucleares. Por outro lado, o então secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou em Junho que a NATO tinha disponíveis 500.000 mil militares em alta prontidão para a guerra da Ucrânia. Acresce que em vários países, incluindo os EUA, se tomam medidas para tornar o serviço militar obrigatório ou para facilitar a decisão dos jovens de se alistarem nas Forças Armadas. A retórica para promover a guerra.
A retórica para promover a guerra passa por várias fases. Os senhores da guerra começam sempre por promover a guerra em nome da preservação da paz. Agravam as situações de conflito, justificando-as como medidas para travar o seu alastramento. Tomam medidas ofensivas, dizendo que são defensivas. Esta retórica serve para adormecer as consciências dos activistas da paz. Quando este objectivo é alcançado em grande medida, entra numa nova fase: a demonização e perseguição daqueles que permanecem firmes na luta pela paz. Repentinamente eles são desacreditados como estando ao serviço do inimigo, financiados pelo inimigo, traidores da causa patriótica do nobre esforço de guerra para preservar a paz e a civilização ocidental. O descrédito é seguido pela perseguição activa. Por outro lado, os lucros exponenciais das empresas de armamento passam a ser saudados como sinais da pujança da economia, quando antes eram pejorativamente considerados “os mercadores da morte” ou “war profiteers”.
No caso dos EUA, o país que desde a Segunda Guerra Mundial mais insistiu em fazer residir o seu poder no poder militar, mais que preparação para a guerra, assistimos a uma política de guerra limitada mas permanente sustentada por quatro pilares: as sucessivas derrotas nas guerras em que intervieram (Sudoeste Asiático, e Médio Oriente) são transformadas em vitórias através de uma massiva guerra de propaganda; a prioridade do bem-estar das populações é gradualmente substituída pela prioridade da segurança nacional que, aliás, tem uma dimensão externa e uma dimensão interna (os EUA têm 25% dos presos do mundo apesar de só terem 5% da população global); os orçamentos militares crescem exponencialmente e o seu crescimento nunca é questionado; finalmente, os processos eleitorais são manipulados para que os promotores do militarismo ganhem sempre as eleições.
Os interesses em promover a guerra. A guerra está ao serviço do capitalismo e do colonialismo sob múltiplas formas. Entre as principais, podemos distinguir as empresas de produção de armamento de guerra (a indústria militar dos EUA controla 45% do comércio global de armamento e os seus lucros subiram exponencialmente com a guerra da Ucrânia e a guerra de Gaza); o capital financeiro (a Ucrânia é neste momento o terceiro maior devedor do FMI); o acesso aos recursos naturais (cerca de 30% dos 33 milhões de hectares da riquíssima terra arável da Ucrânia, considerada o celeiro da Europa, é já propriedade de dez grandes empresas agroindustriais estrangeiras). Por sua vez, ao denunciar o genocídio de Gaza não podemos esquecer o projecto do Canal Ben Gurion, proposto na década de 1960 e hoje, de novo, na agenda dos senhores da guerra, um canal alternativo ao Canal do Suez e administrado por Israel e aliados. Este canal ligaria o golfo de Aqaba no Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo. Mais longo, mas com mais capacidade que o canal do Suez e além disso fora do controle egípcio (que no passado bloqueou várias vezes a passagem de navios de ou para Israel), este canal poderia ser uma alternativa à nova Rota da Seda da China. Inicialmente previsto terminar no Mediterrâneo num porto ao norte da Faixa de Gaza, tem-se ultimamente especulado que a limpeza étnica em curso podia, entre outras “vantagens” para Israel, limpar o terreno e encurtar a extensão do canal, atravessando o que é hoje a Faixa de Gaza.Dirijo-me aos jovens porque serão os jovens a carne para canhão da Terceira Guerra Mundial, por mais sofisticada que seja a alta tecnologia, o uso de cães robots e a Inteligência Artificial que forem utilizados. Lendo o diário de guerra de Curzio Malaparte, Kaputt, na frente alemã do leste e do norte na Segunda Guerra Mundial, uma das coisas que mais me impressionou foi a descrição dos exuberante banquetes dos generais e dos políticos aliados de Hitler, com as mais exóticas iguarias, os melhores vinhos e as mais elegantes mulheres, enquanto na frente da batalha os jovens alemães e seus inimigos morriam aos milhares, desertavam ou enlouqueciam, divagando pelas florestas sem destino nem futuro ou apenas esperando por uma bala misericordiosa.Para prevenir a eclosão da Terceira Guerra Mundiale dar esperança a quem tem medo dela é necessário incutir medo em quem a está a promover. O movimento pela paz, agora renovado pela luta contra o genocídio dos palestinianos de Gaza, é um sinal de esperança, mas não basta. A guerra resulta sempre de uma massiva manipulação do medo e da criação de condições de vulnerabilidade, de carência, de precariedade, de erosão de direitos sociais que atingem populações cada vez mais vastas. E resulta sobretudo da fragmentação das lutas que resistem a tudo isso. Quanto maior for a fragmentação mais invisível será o poder e a dominação e maior será o risco de as vítimas se insurgirem contra outras vítimas ainda mais vitimizadas, de os condenados da terra combaterem outros grupos ainda mais condenados da terra. A articulação das lutas sociais contra as três principais dominações modernas – capitalismo, colonialismo e hetero-patriarcado – é assim a condição necessária para a reconstrução de alternativas de paz, a paz que desta vez é pedida tanto pelos seres humanos como pela natureza. A condição suficiente é refundarmos as políticas de conhecimento e de educação de modo a que elas revelem o que designo por sociologia das ausências, o conjunto de alternativas anticapitalistas, anticolonialistas e antipatriarcais que proliferam no mundo.
Não carecemos de alternativas, carecemos de um pensamento alternativo de alternativas.
BOAVENTURA De SOUSA SANTOS ” JORNAL DAS LETRAS” (PORTUGAL) / “BLOG BRASIL 247” (BRASIL)