ESTRATÉGIA DE BOLSONARO
Peter Pál Pelbart -
filósofo, ensaísta, professor e tradutor húngaro residente no Brasil
“Eu acho tudo isso que está
acontecendo positivo no macro, embora esteja sendo dificílimo no micro.
Explico: todo esse ódio, toda essa ignorância, essa violência, isso tudo já
existia ao nosso redor. Agora é como se tivessem tirado da gente a
possibilidade de fingir que não viu. Caíram as máscaras. O Brasil é um país
construído em bases violentas, mas que acreditou no mito do "brasileiro
cordial". Um país que deu anistia a torturadores e fingiu que a ditadura
nunca aconteceu. Que não fez reparação pela escravidão e fala que é miscigenado
e não é racista. Nós fechamos muitas feridas históricas sem limpar e agora elas
inflamaram. Estamos sendo obrigados a ver que o Brasil é violento, racista,
machista e homofóbico. Somos obrigados a falar sobre a ditadura ou talvez
passar por ela de novo. Estamos olhando para as bases em que foram construídas
nossas famílias e dizendo “Essa violência acaba em mim. Eu não vou passar isso adiante.”
Como todo processo de cura emocional, esse também envolve olhar pras nossas
sombras e é doloroso, sim, mas é o trabalho que calhou à nossa geração.
O lado positivo é que, agora que estamos todos
fora dos armários, a gente acaba descobrindo alguns aliados inesperados.
Percebemos que se há muito ódio, há ainda mais amor. Saber que não estamos sós
e que somos muitos nos deixa mais fortes. Precisamos nos fortalecer, amores.
Essa luta ela não é dos próximos 15 dias, é dos próximos 15 anos. Mais: é a
luta das nossas vidas. Não cedam ao desespero. Não entrem na vibe da raiva. Não
vai ser com raiva que vamos vencer a violência. E se preparem, tem muito chão pela
frente."
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