Mapa da Violência 2012 mostra "pandemia" de mortes de jovens negros, diz professor
Thais Leitão
Da Agência Brasil, em Brasília
Da Agência Brasil, em Brasília
As
mortes por assassinato entre os jovens negros no país são,
proporcionalmente, duas vezes e meia maior do que entre os jovens
brancos. Em 2010, o índice de mortes violentas de jovens negros foi de
72, para cada 100 mil habitantes; enquanto entre os jovens brancos foi
de 28,3 por 100 mil habitantes. A evolução do índice em oito anos também
foi desfavorável para o jovem negro. Na comparação com os números de
2002, a taxa de homicídio de jovens brancos caiu (era 40,6 por 100 mil
habitantes). Já entre os jovens negros o índice subiu (era 69,6 por 100
mil habitantes).
Os
dados fazem parte do "Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no
Brasil", divulgado nesta quinta-feira (29) em Brasília, pelo Centro
Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), a Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e a Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
(Seppir).
De
acordo com o professor Julio Jacobo, responsável pelo estudo, os dados
são “alarmantes” e representam uma “pandemia de mortes de jovens
negros”. Entre os fatores que levam a esse panorama, ele cita a “cultura
da violência” --tanto institucional como doméstica, e a impunidade.
Segundo o professor, em apenas 4% dos casos de homicídios no Brasil, os
responsáveis vão para a cadeia.
“O
estudo confirma que o polo de violência no país são os jovens negros e
não é por casualidade. Temos no país uma cultura que justifica a
existência da violência em várias instâncias. O Estado e as famílias
toleram a violência e é essa cultura que faz com que ela se torne
corriqueira, que qualquer conflito seja resolvido matando o próximo”,
disse Jacobo.
O
professor defende políticas públicas mais amplas e integradas para
atacar a questão, principalmente na área da educação. “Há no país cerca
de 8 milhões de jovens negros que não estudam nem trabalham. As
políticas públicas de incorporação dessa parcela da população são
fundamentais para reverter o quadro”.
Ainda
segundo o estudo, a situação mais grave é observada em oito Estados,
onde a morte de jovens negros ultrapassa a marca de 100 homicídios para
cada 100 mil habitantes. São eles: Alagoas, Espírito Santo, Paraíba,
Pernambuco, Mato Grosso, Distrito Federal, Bahia e Pará. A análise por
municípios é ainda mais preocupante: em Simões Filho, na Bahia, e em
Ananindeua, no Pará, são registrados 400 homicídios de jovens negros por
100 mil habitantes.
O
professor enfatizou que as taxas de assassinato entre a população negra
no Brasil são superiores às de muitas regiões que enfrentam conflitos
armados. Jacobo também comparou a situação brasileira à de países
desenvolvidos, como Alemanha, Holanda, França, Polônia e Inglaterra,
onde a taxa de homicídio é 0,5 jovem para cada 100 mil habitantes.
“Para
cada jovem que morre assassinado nesses países, morrem 106 jovens e 144
jovens negros no Brasil. Se compararmos com a Bahia, são 205 jovens
negros para cada morte naqueles países; e no município baiano de Simões
Filho, que tem o pior índice brasileiro, são 912 mortes de jovens negros
para cada assassinato de jovem”, disse.
O
secretário-executivo da Seppir, Mário Lisboa Theodoro, enfatizou que o
governo federal tem intensificado as ações para enfrentar o problema que
classificou de “crucial”. Ele lembrou que foi lançado em setembro, em
Alagoas, o projeto Juventude Viva, para enfrentar o crescente número de
homicídios entre jovens negros de todo o país. A iniciativa prevê aulas
em período integral nas escolas estaduais, a criação de espaços
culturais em territórios violentos e o estímulo ao empreendedorismo
juvenil, associado à economia solidária.
O
Juventude Viva é a primeira etapa de uma ação mais ampla –o Plano de
Prevenção à Violência Contra a Juventude Negra. A meta do governo é
expandir o programa no primeiro semestre de 2013 para mais cinco
unidades federativas: Paraíba, Espírito Santo, Distrito Federal, Bahia e
Rio Grande do Sul.
“O
objetivo é garantir um conjunto de serviços às comunidades onde esses
jovens residem, como infraestrutura, além de fornecer oportunidade de
estudo e de ocupação para eles, aproveitando inclusive os eventos
esportivos que o Brasil vai sediar, como a Copa do Mundo”, disse
Theodoro.
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