Índio
não é folclore, mas parte da história do Brasil
No mês de
abril duas datas chamam a atenção: 19 - Dia do Índio e 22 “descobrimento”. Algumas
escolas comemoram a data como parte do folclore e usam o índio quase
como lenda ou um mito em suas festas alusivas às datas.
Mas o índio
brasileiro é muito mais do que isso e deve ser respeitado pelo legado que
deixou à cultura do país. Não dá para comemorar essas datas sem respeitar ( não
folclorizando) as tradições indígenas.
Sem falar que
o “descobrimento” não passou de uma invasão que dizimou milhões de índios para
se consolidar. Portanto não podemos falar em 22/04 como se fosse um
descobrimento! Nada foi descoberto! Já existia e tinha dono! Foi sim invadido e
seus habitantes autóctones dizimados!
Assim também teremos, logo mais em maio, o dia 13.
Lembramos que a abolição foi mais uma “lei para inglês ver” e que a data que
deveríamos comemorar é o dia 20/11 ,dia de Zumbi dos Palmares que significa
toda a luta pela libertação!
Comemorar
significa: fazer memória com.
“Lei para
inglês ver” significa: leis que o governo britânico exigia para comercializar
com o Brasil. E o Brasil foi fazendo leis: Lei do Ventre Livre, Lei do
Sexagenário... imagine uma criança que nascesse seria livre, poderia sair da
senzala... é irônico... cruel! E os escravos com 60 anos estariam livres...
quantos escravos chegavam aos 60 anos? E os chegavam, iriam descansar... pois não conseguiriam mais
trabalhar por estarem entrevados, doentes... ficariam deitados na senzala... “ganham” a
liberdade ou são expulsos?
Algumas
reflexões devem ser feitas sem rodeios! Sem mascarar, sem achar que vai chocar,
sem mentiras, sem FOLCLORIZAR! São seres de carne e osso que derramaram muito
sangue! Forjaram a sua história na base da resistência e da luta!
E nossos
estudantes são herdeiros desta história, logo, merecem conhecê-la.
Texto de Evandir Antonio Pettenon, Gerente Regional de Educação Básica da CRE Santa Maria.
Artigo - Por uma educação brasileira que
possibilite discussões e conhecimentos sobre os povos indígenas e suas
histórias de lutas e conquistas
*Juciene Ricarte Apolinário
O Dia do Índio (19 de
abril) criada no governo de Getúlio Vargas em 1943, deve ser percebido como um
dia para reflexão sobre a necessidade dos espaços escolares e universitários de
conhecerem os povos indígenas . Para os povos indígenas “todo dia é dia de
índio”, no entanto, para a sociedade não-indígena é preciso um evento
“comemorativo” para “lembrar” que o Brasil é constituído por uma diversidade
étnica e não do chamado “índio genérico” ou melhor um protótipo de índio que
foi mitificado nos espaços escolares e nos livros didáticos dentro da
representação ultrapassada do “mito da democracia das três raças” (branco,
índio e negro).
De acordo com os
dados divulgados pela FUNAI, vivem no Brasil, 817 mil indivíduos
indíegnas, cerca de 0,4% da população brasileira, baseado no Censo de 2010.
Eles estão distribuídos entre 688 Terras Indígenas e algumas áreas urbanas. Há
também 82 referências de grupos indígenas não-contatados, das quais 32 foram
confirmadas. Existem ainda grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua
condição indígena junto ao órgão federal indigenista. Portanto, não se pode
continuar folclorizando a idéia do “índio” genérico, passadista, mas reafirmar
que no Brasil convivemos com a presença de uma diversidade étnica indígena,
representadas pelos seus diferentes povos, com as suas práticas culturais, organizações
sociais e políticas. Além da riqueza dos diferentes grupos étnicos, existe a
diversidade linguística com cerca de 180 línguas, pertencentes a mais de 30
famílias linguísticas diferentes estão presentes entre mais de 220 povos
indígenas.
Não obstante,
percebe-se que no ensino fundamental o “Dia do Índio” é um momento singular de
foclorização dos homens e mulheres indígenas. Fala-se muitas vezes do “índio
genérico” e folclorizado nos rostos de crianças pintadas de pigmentos
coloridos. Cabeças ornadas com cocares representando as indumentárias do povo
americano APACHE, alá filmes de Cowboy americano. Ou crianças com uma única
pena feita de cartolina, com duas tranças sintéticas. Para o quadro mais
folclórico ensinam as crianças a encenarem uma coreografia fazendo um som com
as mãos batendo na boca ecoando cantos dos indígenas representados nos filmes
de faroeste: uuuuuu. Quanta riqueza sobre as práticas culturais dos
povos indígenas no Brasil é negada as
crianças. As suas musicalidades, rituais, mitos de origem entre outras. Fico
pensando será que os nossos educadores do ensino fundamental tiveram acesso ao
conhecimento sobre os povos indígenas nas suas diferentes formações
universitárias: Pedagogia, História, Letras, Geografia, Matemática e tantas
outras áreas que poderiam se abrir mais ao conhecimento
intercultural indígena.
...
Apesar das várias conquistas, sabe-se que são
muitos os desafios que os povos indígenas terão que enfrentar em nosso país.
Lutas contínuas pelos seus direitos e contra toda e qualquer exclusão
educacional construído, historicamente, em um país que se proclama inclusivo e
democrático. Democracia e inclusão étnico-social e educacional só serão
possíveis em uma nação, através da transformação dos sistemas de valores
coletivos. Possíveis quando se utiliza uma das mais importantes formadoras de
opinião de uma sociedade que é o ambiente escolar. A educação é um eficaz
instrumento de transformação de mentalidades coletivas como defendia o grande
educador Paulo Freire. Uma das conquistas dos povos indígenas, e de todos nós
que trabalhamos conjuntamente com os grupos étnicos no Brasil, foi a
promulgação da Lei 11.645 que acrescentou a obrigatoriedade do ensino da
cultura e história indígena à Lei 10.639, de 2003, responsável por inserir a
história afro-brasileira e africana nos currículos
escolares.
* Professora Dra. do Curso de História
e da Licenciatura Intercultural Indígena (PROLIND-UFCG) e coordenadora do
Mestrado em História da UFCG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário