quarta-feira, 17 de abril de 2013

O FOLCLÓRICO E O REAL NAS DATAS COMEMORATIVAS NA ESCOLA!



Índio não é folclore, mas parte da história do Brasil


No mês de abril duas datas chamam a atenção: 19 - Dia do Índio e 22 “descobrimento”.  Algumas  escolas comemoram a data como parte do folclore e usam o índio quase como lenda ou um mito em suas festas alusivas às datas.
Mas o índio brasileiro é muito mais do que isso e deve ser respeitado pelo legado que deixou à cultura do país. Não dá para comemorar essas datas sem respeitar ( não folclorizando) as tradições indígenas.
Sem falar que o “descobrimento” não passou de uma invasão que dizimou milhões de índios para se consolidar. Portanto não podemos falar em 22/04 como se fosse um descobrimento! Nada foi descoberto! Já existia e tinha dono! Foi sim invadido e seus habitantes autóctones dizimados!
Assim também  teremos, logo mais em maio, o dia 13. Lembramos que a abolição foi mais uma “lei para inglês ver” e que a data que deveríamos comemorar é o dia 20/11 ,dia de Zumbi dos Palmares que significa toda a luta pela libertação!
Comemorar significa: fazer memória com.
“Lei para inglês ver” significa: leis que o governo britânico exigia para comercializar com o Brasil. E o Brasil foi fazendo leis: Lei do Ventre Livre, Lei do Sexagenário... imagine uma criança que nascesse seria livre, poderia sair da senzala... é irônico... cruel! E os escravos com 60 anos estariam livres... quantos escravos chegavam aos 60 anos? E os chegavam,  iriam descansar... pois não conseguiriam mais trabalhar por estarem entrevados, doentes...  ficariam deitados na senzala... “ganham” a liberdade ou são expulsos?
Algumas reflexões devem ser feitas sem rodeios! Sem mascarar, sem achar que vai chocar, sem mentiras, sem FOLCLORIZAR! São seres de carne e osso que derramaram muito sangue! Forjaram a sua história na base da resistência e da luta!
E nossos estudantes são herdeiros desta história, logo, merecem conhecê-la.
Texto de Evandir Antonio Pettenon, Gerente Regional de Educação Básica da CRE Santa Maria.


Artigo - Por uma educação brasileira que possibilite discussões e conhecimentos sobre os povos indígenas e suas histórias de lutas e conquistas
*Juciene Ricarte Apolinário

               
O Dia do Índio (19 de abril) criada no governo de Getúlio Vargas em 1943, deve ser percebido como um dia para reflexão sobre a necessidade dos espaços escolares e universitários de conhecerem os povos indígenas . Para os povos indígenas “todo dia é dia de índio”, no entanto, para a sociedade não-indígena é preciso um evento “comemorativo” para “lembrar” que o Brasil é constituído por uma diversidade étnica e não do chamado “índio genérico” ou melhor um protótipo de índio que foi mitificado nos espaços escolares e nos livros didáticos dentro da representação ultrapassada do “mito da democracia das três raças” (branco, índio e negro).

De acordo com os dados divulgados  pela FUNAI, vivem no Brasil, 817 mil indivíduos indíegnas, cerca de 0,4% da população brasileira, baseado no Censo de 2010. Eles estão distribuídos entre 688 Terras Indígenas e algumas áreas urbanas. Há também 82 referências de grupos indígenas não-contatados, das quais 32 foram confirmadas. Existem ainda grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista. Portanto, não se pode continuar folclorizando a idéia do “índio” genérico, passadista, mas reafirmar que no Brasil convivemos com a presença de uma diversidade étnica indígena, representadas pelos seus diferentes povos, com as suas práticas culturais, organizações sociais e políticas. Além da riqueza dos diferentes grupos étnicos, existe a diversidade linguística com cerca de 180 línguas, pertencentes a mais de 30 famílias linguísticas diferentes estão presentes entre mais de 220 povos indígenas.

Não obstante, percebe-se que no ensino fundamental o “Dia do Índio” é um momento singular de foclorização dos homens e mulheres indígenas. Fala-se muitas vezes do “índio genérico” e folclorizado nos rostos de crianças pintadas de pigmentos coloridos. Cabeças ornadas com cocares representando as indumentárias do povo americano APACHE, alá filmes de Cowboy americano. Ou crianças com uma única pena feita de cartolina, com duas tranças sintéticas. Para o quadro mais folclórico ensinam as crianças a encenarem uma coreografia fazendo um som com as mãos batendo na boca ecoando cantos dos indígenas representados nos filmes de faroeste: uuuuuu.   Quanta riqueza sobre as práticas culturais dos povos indígenas no Brasil  é negada as crianças. As suas musicalidades, rituais, mitos de origem entre outras. Fico pensando será que os nossos educadores do ensino fundamental tiveram acesso ao conhecimento sobre os povos indígenas nas suas diferentes formações universitárias: Pedagogia, História, Letras, Geografia, Matemática e tantas outras áreas que poderiam se abrir mais ao conhecimento intercultural indígena.
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Apesar das várias conquistas, sabe-se que são muitos os desafios que os povos indígenas terão que enfrentar em nosso país. Lutas contínuas pelos seus direitos e contra toda e qualquer exclusão educacional construído, historicamente, em um país que se proclama inclusivo e democrático. Democracia e inclusão étnico-social e educacional só serão possíveis em uma nação, através da transformação dos sistemas de valores coletivos. Possíveis quando se utiliza uma das mais importantes formadoras de opinião de uma sociedade que é o ambiente escolar. A educação é um eficaz instrumento de transformação de mentalidades coletivas como defendia o grande educador Paulo Freire. Uma das conquistas dos povos indígenas, e de todos nós que trabalhamos conjuntamente com os grupos étnicos no Brasil, foi a promulgação da Lei 11.645 que acrescentou a obrigatoriedade do ensino da cultura e história indígena à Lei 10.639, de 2003, responsável por inserir a história afro-brasileira e africana nos currículos escolares.

* Professora Dra. do Curso de História e da Licenciatura Intercultural Indígena (PROLIND-UFCG) e coordenadora do Mestrado em História da UFCG.

 

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