Boi de
piranha
Por Michel
Blanco | Putz – qua, 23 de mai de 2012
A repórter Mirella Cunha, do "Brasil Urgente
Bahia", da Band, está agora do outro lado do garfo e experimenta um pouco
de humilhação pública e pré-julgamento, suas ferramentas de trabalho na TV. A
moça vem sendo linchada desde que uma de suas reportagens viralizou no YouTube
há duas semanas. No vídeo, a repórter
esculhamba um jovem detido sob suspeita de estupro, algemado e servido a
execração na delegacia.
A repercussão do caso ganhou novo fôlego depois da
carta aberta assinada por jornalistas baianos em repúdio a abusos praticados
por programas policialescos, em especial o empregador de Mirella. O documento
vai direito ao ponto: a reportagem "motiva questionamentos sobre a
conivência do Estado com repórteres antiéticos, que têm livre acesso a
delegacias para violentar os direitos individuais dos presos".
Exato. A reportagem não só joga na vala qualquer
noção de ética como afronta princípios constitucionais. Também não é caso
isolado. Abusos contra presos desassistidos são a essência de programas do
tipo, com patrocínio de agentes públicos. Mirella, a ponta vistosa dessa rede,
servirá de boi de piranha, o bicho mandado ao rio para ser devorado, enquanto a
manada atravessa em paz.
Em comunicado sobre o caso, a Band diz que vai
"tomar todas as medidas disciplinares necessárias. A postura da repórter
fere o código de ética do jornalismo da emissora". Está aí a retribuição a
quem vestiu tão bem a camisa desse show de horror.
É óbvio que a repórter deve responder pelos abusos,
e já está na mira do Ministério Público Federal da Bahia. Mas, em última
instância, a Band — mesmo que tente lavar as mãos — é a responsável por essa
barbárie. Pena não valer para a emissora a máxima do "Brasil
Urgente": "O sistema é bruto e tem consequência".
FONTE: YAHOO NOTÍCIAS!
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